Casa Reis e Confeitaria Moura reconhecidas como lojas históricas de Santo Tirso
É no meio de infindáveis metros de tecido - entre flanelas ou panos para cortinas -, botões de mil e uma formas expostos em gavetas de madeira e de um festival de cores feito de novelos de lã e linhas de coser que Magno Braga ergue no ar uma pequena nota verde de dois centavos (plastificada, para não sucumbir ao tempo), e confessa que gostava de descobrir a data ao dinheiro que terá sido emitido pela Casa Reis, que nasceu em 1860, "passou duas guerras mundiais" e é hoje a "mais antiga retrosaria do Norte".
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Poucos metros adiante, Alda Moura também sonha em resgatar um pedaço de história, e seguir o rasto do pasteleiro espanhol que levou a receita do mítico pastel jesuíta para a Confeitaria Moura, fundada pelo bisavô na última década do século XIX e que 128 anos depois se orgulha de ter fama nacional. E sobram histórias aos dois herdeiros e guardiões das lojas mais antigas e emblemáticas de Santo Tirso, que agora veem as casas centenárias reconhecidas como "históricas" pelo Município, o que lhes confere proteção e benefícios.
Adaptação ao presente
Em comum, têm ainda a aposta na adaptação ao presente, mas sem esquecerem o que trouxe as duas lojas até aos dias de hoje: a velha matéria-prima para a costura e a confeção original dos doces. "O cliente vem cá focado na tradição, e nós fazemos questão de manter as receitas como eram. Temos muitas do tempo do meu bisavô. São muito tradicionais, muito caseiras", revela Alda Moura, que não abdica do "cuidado com a matéria-prima" e de "preservar a produção artesanal".
"Vendemos o que vendíamos há 100 anos. Fazemos questão de manter as coisas antigas", realça Magno Braga, enquanto estende sobre o balcão de madeira a flanela de xadrez, o serrubeco - "uma fazenda grossa que era usada pelos camponeses" - e a chita. "Vendemos aos ranchos, mas só os de Entre Douro e Minho usam isto", explica o comerciante, a lembrar que "este género de casas está a acabar".
"Quando cheguei aqui, em 1972, havia 52 alfaiates em Santo Tirso. Agora há um. Éramos 12 pessoas ao balcão, e as pessoas tinham de tirar "ticket" para serem atendidas", recorda Magno Braga, que agora divide o atendimento com a filha. "Fomo-nos adaptando ao longo dos anos, e fomos para os cortinados. A decoração é o que nos vai segurando. Fazemos remodelações de interiores", diz.
"Dois ex-líbris"
Na Moura, aumentou-se a capacidade produtiva, remodelou-se o espaço e abriram-se lojas no Porto. "Otimizamos muito a produção, para fazer face ao fluxo de vendas", explica Alda, que contabiliza a confeção de "mais de dois mil jesuítas por dia". "Vem muita gente à cidade por causa dos jesuítas", observa, satisfeita com os "benefícios vantajosos" do novo estatuto.
"São dois ex-líbris de Santo Tirso que ajudam a levar o nome do município além-fronteiras", destaca o presidente da Câmara, Alberto Costa.
Detalhes
Donos é que pedem
São os donos dos espaços que requerem à Câmara o estatuto de Loja Histórica. Devem estar em atividade há pelo menos 25 anos e ter valor histórico.
Benefícios
Proteção no regime jurídico do arrendamento urbano e das obras em prédios arrendados; acesso a programas de apoio às lojas.