Casal de taxistas é a salvaguarda da população idosa e doente em Castro Laboreiro
O casal Armandino Monteiro e Armandina Fernandes possuem o único serviço de táxi da freguesia de Castro Laboreiro, Melgaço, e já se habituaram a ser mais do que simples taxistas para a maioria da população.
Corpo do artigo
O táxi de nove lugares roda em média 6000 quilómetros por mês, grande parte dos quais com idas e voltas ao IPO no Porto para tratar doentes oncológicos, todos com idades "acima dos 80 anos".
Armando e Armandina têm uma agenda onde apontam a data e hora de consultas e tratamentos de cinco idosos de aldeias recônditas e, depois, fazem o seu acompanhamento durante o tempo que for preciso. O serviço custa 120 euros.
"Estes doentes oncológicos têm direito a ambulância mas preferem-nos porque os acompanhamos em tudo. Na inscrição, na consulta tomamos sempre nota do que o médico diz e nos tratamentos. As pessoas não têm escolaridade e têm muita dificuldade em resolver os assuntos", explica Armandino, referindo que "o preço inclui tempo de espera. "Às vezes pode acontecer irmos de manhã e só regressarmos à noite e não cobramos mais por isso". "Entre combustível e portagens, ganhamos muito pouco com as viagens", confessa. E a mulher explica: "As pessoas aqui são muito amáveis e humildes e nós procuramos acarinhá-las".
Armandino de 56 anos e Armandina de 50 estão casados há 27 anos e possuem, além do táxi, um café e uma unidade de alojamento turístico na vila de Castro Laboreiro. Para dar conta dos muitos serviços de transporte, revezam-se ao volante. "Temos ambos carteira de taxista e quando vai ele, não vou eu. Alguém tem de ficar para o resto dos trabalhos", diz Armandina, contando: "Já levei pessoas com mobilidade reduzida e acompanho-as em tudo. Aconteceu ir uma semana inteira com o mesmo doente, a sair às seis da manhã".
Ribeiro de Baixo é o lugar mais distante da vila, fica a 12 quilómetros. De lá o casal transporta um doente com 83 anos. "Já tive de ir buscá-lo para tratamento um dia às seis da manhã, com 20 centímetros de neve. Levei a minha carrinha com tração às quatro e uma motosserra, porque já sabia que a estrada estava interrompida e que, para passar, teria de cortar árvores. Consegui pô-lo no IPO à hora certa", conta ele.
Outros serviços
Há 20 anos a prestar o serviço, Armandino e Armandina revelam que "60% do transporte que fazem é de saúde". Além de transporte para serviços oncológicos de Viana e Porto, a procura maior é para os hospitais de Viana e Braga, para o aeroporto, e vilas de Melgaço e Monção. Armandino conclui: "A população tem uma vantagem, é que sempre houve muita emigração e por isso as pessoas não têm problemas económicos. Senão era uma desgraça".
A proximidade com os idosos é tanta que quando é preciso também lhes enviam médico a casa. "As pessoas estão muito isoladas, a muitos quilómetros de tudo. É muito difícil. Temos um médico espanhol que está a 19 quilómetros e que dá apoio aqui à população. As pessoas ligam--nos e nós arranjamos. Temos sempre alguém a bater-nos à porta", conta Armandina.