As circunstâncias em que um casal de 72 anos (Iracema Pinto e o marido Amadeu Barreira) morreu carbonizado quando fugia do incêndio que ameaçou a aldeia de Penabeice, em Murça, está em discussão. Autarca local afirma que "as pessoas saíram já depois de lhe ter sido dito para não o fazerem".
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Em entrevista à Rádio Renascença, Domingos Xavier Viegas, coordenador do Centro de Estudos de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, admitiu que tenha havido "um atraso na retirada destas pessoas, que já saíram da aldeia muito perto da aproximação do incêndio".
"Isso é realmente algo a evitar porque já em 2017, em Pedrógão, verificámos que a fuga das pessoas, com o incêndio por perto, não foi uma boa decisão e temos de o evitar para situações futuras", defendeu.
Ao JN, Xavier Viegas, que visitou as zonas ardidas de Murça na terça-feira, esclareceu que o que quis dizer foi que "terá havido um atraso da saída daquele casal e por iniciativa própria", ou seja, "o casal saiu demasiado tarde e não por decisão de alguém".
Entretanto, o presidente da Câmara de Murça, Mário Artur Lopes, também esclareceu, ao JN, que "as pessoas saíram já depois de lhe ter sido dito para não o fazerem". "Quando o último carro saiu da aldeia ainda não havia fumo na estrada nem o incêndio estava próximo, embora se encaminhasse para lá", acrescentou.
Com o agravamento da situação, "foi dito aos residentes para se aguentarem em casa de modo a evitar a asfixia pelo fumo". Porém, segundo o autarca, o casal terá decidido abandonar a povoação. "Só quando a situação melhorou em termos de fumo, cerca de uma hora e meia depois, é que vimos lá o carro queimado", sublinhou.
Mário Artur Lopes supõe que Iracema e Amadeu, por terem a casa muito próxima do fogo, "devem ter ficado assustados e saíram sem dizer nada a ninguém".
Ao JN, Raul Pinto, primo de Iracema Pinto, contou que "quando viram o lume a aproximar-se da aldeia tiveram medo, agarraram no carro e foram pela estrada fora". Ele foi atrás deles, mas depois de os bombeiros "terem avisado que era melhor voltar para trás, porque o incêndio andava perto da estrada", ele decidiu recuar.
Já os primos "continuaram e, coitados, tiveram pouca sorte". Depois de deixarem Penabeice, despistaram-se por uma ribanceira, o carro capotou e foram apanhados pelo incêndio. Morreram carbonizados.
"A minha sorte foi ter dado ouvidos aos bombeiros e voltar para trás", prossegue Raul, que só soube da tragédia bastantes horas depois. "O fogo já se tinha extinguido. Havia menos fumo quando se começou a ver o carro na ribanceira", recorda. "Toda a gente comentava que estava lá um carro e eu disse logo que só podiam ser eles".