A Câmara de Cascais foi a primeira autarquia do país a fazer um estudo serológico à população.
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O município testou 429 habitantes do concelho, entre 9 de abril e 9 de maio, e concluiu que 0,7% destes tiveram covid-19 e desenvolveram anticorpos à doença. "Era fundamental conseguir esta fotografia do território para percebermos o que aconteceu no pico máximo do estado de emergência", explica o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz. O município vai agora testar toda a população e prevê realizar cinco mil testes serológicos semanalmente.
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O estudo realizado pela autarquia e a empresa de sondagens Pitagórica revelou que 0,7% da população de Cascais apresentou anticorpos à covid-19, muito acima dos 0,1% avançados pela Direção-Geral da Saúde (DGS), e que 5,53% das famílias de Cascais poderá estar imunizada (tendo em conta o erro máximo da amostra, que é de 4,83%).
"Tínhamos a consciência, por estudos internacionais, que existiria uma percentagem de assintomáticos na nossa população e foi isso que nos motivou a desenvolver o estudo. O resultado de 0,7% é sete vezes superior aos números oficiais e fomos um concelho pouco fustigado. Em concelhos mais afetados, o número de cidadãos que tiveram a doença poderá ser muito superior", alerta Pinto Luz.
"Mais assintomáticos do que sintomáticos"
Estes números estão em linha com as conclusões de estudos realizados pelo Imperial College de Londres e pela Fundação Champalimaud, segundo os quais, respetivamente, até 5% e 2,8% da população teve contacto com o novo coronavírus. "São muitos mais aqueles que têm a doença e estão assintomáticos, no meio da população, do que aqueles que testam positivo e contactam a linha SNS 24. É algo a que também temos de estar atentos e serve para tirarmos conclusões", acredita o autarca.
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O vice-presidente da Câmara de Cascais diz que serão necessárias "várias fotografias do concelho em diferentes momentos da pandemia" para chegarmos a resultados mais representativos. "O estudo foi feito durante o estado de emergência, mais para a frente faremos uma segunda ronda para percebermos a influência do desconfinamento. Este foi apenas um passo, ainda há um longo caminho para atingir a imunidade de grupo", diz.
Os resultados do estudo ainda são preliminares. As conclusões finais permitirão, por exemplo, identificar quais as freguesias, grupos etários ou outras dimensões sociodemográficas do município mais atingidas pela covid-19. "A ideia é perceber antes do final do verão qual a presença de anticorpos existente em Cascais, para prepararmos melhor o inverno e definirem-se decisões quanto ao regresso ao trabalho, às aulas, etc", explica Alexandre Picoto, da Pitagórica.
"Daqui a um ou dois meses conseguiremos perceber como é que, depois do período de desconfinamento, foi a taxa de crescimento das pessoas testadas em termos de quedas de anticorpos. A presença de anticorpos gera pelo menos uma imunidade temporária, mas não é consensual entre todos os cientistas. Só o tempo o dirá", explica ainda.
"Amostragem por conveniência"
O responsável da empresa de sondagens alerta para o facto de a DGS não dar dados "da real penetração da doença junto da população". "É quase uma amostragem de conveniência porque são selecionadas pessoas que não representam toda a população", explica. O Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge vai arrancar este mês com 2070 testes para conhecer o nível de imunidade ao novo coronavírus em Portugal, mas através de uma "metodologia equivocada", considera Picoto.
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"Nós usamos uma metodologia que pode ser extrapolada para todo o concelho de Cascais, mas a que está a ser utilizada pelo Estado não pode ser extrapolada para a população portuguesa. Vão fazer os testes em hospitais ou centros de análise e quem lá vai são pessoas que já iam lá com outros problemas, não representam a população. Nos países de referência ninguém está a fazer assim, é uma metodologia por conveniência", explica.
De acordo com o boletim diário da Direção-Geral de Saúde, Cascais registou este sábado 467 casos positivos de covid-19, números que Pinto Luz considera pouco expressivos. "Somos o terceiro maior município da Área Metropolitana de Lisboa, por isso até nem estamos mal. Temos de facto uma percentagem muito baixa", congratula-se.