O setembro chuvoso foi bom para os soutos portugueses. Não entraram em stresse hídrico e a castanha pôde crescer mais, o que fazia prever um ano excelente de produção em qualidade e quantidade. Mas tanta humidade também trouxe desvantagens. Muitos castanheiros transmontanos estão a ficar com uma tonalidade acastanhada antes do tempo.
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Folhas e ouriços deterioram-se e caem mais cedo sem o fruto ter tempo de amadurecer completamente, perdendo valor comercial. A culpa é da septoriose resultante de condições meteorológicas de grande humidade e calor, ocorridas em agosto e setembro, apontou José Laranjo, presidente da Associação Nacional da Castanha (RefCast) e investigador da UTAD. O fungo (Septoria) já foi identificado em vários soutos de Bragança e de Valpaços "em produções intensivas", indicou Abel Pereira, presidente da Associação Agro-Florestal e Ambiental da Terra Fria, em Vinhais.
O investigador da UTAD prevê quebras de produção entre 80% a 90%, ou até "praticamente zero", onde não foram realizados tratamentos à base de cobre. "Quem os fez tem os soutos limpinhos e vai ter uma produção fantástica. Quem os não fez vai ter um problema muito grave", refere.
Podridão agrava-se
Outra praga dos castanheiros não resolvida é a podridão da castanha, que "tem vindo a agravar-se" desde 2019, segundo José Laranjo. Começa no souto na altura da floração e desenvolve-se dentro dos ouriços, mas por ser invisível progride muito rapidamente depois da colheita, no armazenamento.
"Provoca a modificação da castanha, que apodrece no interior, não se vê por fora, e só se tem noção quando se abrem os frutos. Agrava-se dentro dos sacos, onde a castanha ganha humidade e aquece ligeiramente, o que é explosivo para o desenvolvimento do fungo. Em quatro a cinco dias um saco de castanhas pode ficar completamente podre", alerta.
A UTAD e o Instituto Politécnico de Bragança estão a trabalhar para criar um produto antifúngico que controle a podridão "que está relacionada com ataques da vespa da galha do castanheiro", acrescenta.
Ainda com a campanha atrasada cerca de duas semanas, José Laranjo recomenda aos produtores e revendedores que, após a apanha, façam o armazenamento no frigorífico, pois à temperatura ambiente o fungo desenvolve-se mais.
O atraso na colheita resulta de setembro ter sido mais fresco do que habitual, retardando a maturação. As temperaturas atuais de mais de 20 graus podem "compensar a humidade", assim espera Abel Pereira porque a castanha é o petróleo transmontano. É das atividades agrícolas mais rentáveis nos concelhos de Bragança, Vinhais e Valpaços, que concentram mais de 80% da produção nacional, colhendo mais de 50 mil toneladas.
Em 10 anos a área de soutos aumentou 53 % na região, daí que o investigador considere que o grande desafio dos agricultores é seja a mecanização da apanha devido à falta de mão de obra. Aumentou o recurso aos imigrantes do Leste, mas Laranjo diz que a solução nas grandes explorações é a mecanização. "Os agricultores estão relutantes porque as máquinas são caras", observa.
Vespa-das-galhas
O plano nacional de luta biológica contra a praga faz-se através da largada do parasitóide "Torymus sinensis" nos soutos infetados. Conseguiu-se que a vespa, que ameaçava a produção de castanha em Portugal, não tivesse o impacto dramático previsto. Municípios financiaram a luta.
Tinta e cancro
A tinta e o cancro do castanheiro são as doenças mais antigas e continuam a ser "grandes dores de cabeça" para os produtores de castanha. Ainda não há tratamento completamente eficaz, mas há algumas soluções para minimizar os problemas. A estes junta-se ainda o bichado, que "causa prejuízos na ordem dos 20% a 30% das castanhas".