É já no próximo dia 23 que abre a primeira escola de pastores da região Centro, com quase 120 alunos.
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O projeto é financiado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro (CCDRC) e tem o apoio das comunidades intermunicipais Dão-Lafões, Coimbra, Castelo Branco e Beiras e Serra da Estrela e dos politécnicos de Castelo Branco e Viseu.
A três semanas da abertura do ano letivo, o entusiasmo toma conta de uma das alunas, que já completou 50 anos. "Acho que é uma ideia formidável, porque o pastoreio não se resume a levar os animais a pastar", explicou Maria Manuela Martins, enquanto amanhava as 140 cabras que tem na Quinta da Filhadeira, no Fundão.
"Será bom aprendermos questões ligadas à sanidade animal, à prevenção de doenças e até sobre a reprodução, para tirarmos o melhor partido da atividade", precisou ainda a mulher, que também faz queijo e vive da profissão que abraçou há 18 anos. "E como sou um zero na Internet, espero aprender qualquer coisa mais, porque agora já se faz tudo na rede, para submeter os formulários do Ministério da Agricultura", sublinhou ainda a pastora, que já tem noções alargadas sobre produção animal.
Reforçar atividade
Sob a gestão da empresa InovCluster, com sede em Castelo Branco, o projeto nasceu para reforçar um setor de atividade em vias de extinção. "Vai abranger a pastorícia e a produção de queijo, porque hoje em dia há algumas debilidades e é preciso promover novas oportunidades de relançamento dessas atividades", explicou a gestora, Paula Fazenda.
"As aulas vão decorrer em vários concelhos, na abrangência das três zonas com denominação de origem (DOP) e o curso terá a duração de 560 horas, sendo que 150 são teóricas e as restantes 40 terão uma componente prática", precisou também.
Vale-pastor
Sendo um projeto-piloto que vai testar os objetivos que lhe estão subjacentes, os promotores adicionaram um prémio de 5000 euros. De facto, os alunos que fizerem o curso com sucesso e que, comprovadamente, queiram dar início ou continuidade à atividade, podem candidatar-se ao "vale-pastor" de 5000 euros.
Um incentivo que, para Maria Manuela Martins, é importante mas não decisivo. "É certo que daria jeito porque comprava mais cabras, mas vou para a escola porque quero adquirir mais conhecimento", rematou.
Pode aprender-se na escola, mas ser pastor nasceu comigo
Ainda não eram oito da manhã e já Manuel Rodrigues conduzia o rebanho de 150 ovelhas para os lameiros próximos da quinta onde vive, na Velosa, Celorico da Beira. "Já na barriga da minha mãe guardava gado", recordou o homem que nunca quis ser outra coisa, depois de ter nascido numa família tradicional de pastores. " Ainda andei na escola, na tropa, mas abandonei quando percebi que o professor ganhava menos do que eu a criar ovelhas e a vender leite", justificou, quando soube que vai abrir uma escola de pastores. "Ninguém sabe tudo e pode ensinar-se na escola, mas ser pastor nasceu comigo", garantiu.
