À mesa do Refeitório Social da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, estiveram ontem à noite cerca de 50 sem-abrigo, pessoas com dificuldades económicas e também em busca de companhia.
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Foi mais uma edição da "ceia dos sós", que começou em 1988, com apenas três participantes, por iniciativa do padre Artur Coutinho.
Da rua para o refeitório, para jantar bacalhau com batatas e couves, chegou este domingo, Luis Nunes, de 38 anos, que se diz sem-abrigo porque sucumbiu à toxicodependência. Reconhece que as suas circunstâncias são fruto das suas escolhas, mas sente falta do colo familiar.
"Natal é família, não é o bolo rei, o bacalhau, as prendas. Não é uma palavra. Natal é a família unida, sempre. É o mais importante e está-me a faltar, mas eu também fiz por isso. E agora tenho de andar para frente, um dia de cada vez", disse.
Na cozinha, mais uma vez em 16 anos, esteve Natália Barros, que preparou a consoada com a ajuda de Célia e Lorena. "Muito bacalhau, muitas batatas, muita couve. Muito de tudo, para 80 refeições. Cada vez vem mais gente. Este ano temos a casa cheia", comentou. Além dos presentes, também há quem vá buscar refeições, que também incluem rabanadas e outra doçaria natalícia.
No refeitório, voluntárias serviram a ceia. Paula Silva já participa há seis anos e este ano até trouxe a filha Mariana, de 22 anos, recém-chegada de uma ação de voluntariado em Cabo Verde.
"A minha família é grande e não estão sozinhos, por isso pensei em vir ajudar e depois vou para casa e ainda tenho tempo de confraternizar com eles. Infelizmente, cada vez vemos mais pessoas sós. Aqui também vem gente que precisa é de companhia, não da refeição em si", afirmou.
A iniciativa, que já se realiza há 35 anos, foi partilhada com o Bispo da Diocese de Viana do Castelo, D. João Lavrador. "É realmente um momento importante, perante aqueles que estão mais fora da família ou que estão com mais carência neste dia, encontrarmo-nos como família e tentarmos ter um bocadinho de conforto entre todos. E eles sentirem que a Igreja está do lado deles", declarou.
Mário Gomes, cabo-verdiano, trabalhador da construção civil e músico de rua ao fim de semana, alegrou este ano a ceia dos sós, vestido de Pai Natal e a dedilhar o seu acordeão. Tocou músicas de Natal e populares.
"Já vim no ano passado e fiz o mesmo. Vim jantar e depois toquei para o senhor Bispo e para o senhor padre. O senhor Bispo adora este tipo de música e disse que eu tenho capacidades", contou com orgulho Mário, "satisfeito e contente" com a partilha da noite de Natal com "colegas e amigos", portugueses e imigrantes da Colômbia, Ucrânia, Cabo Verde, Guiné Bissau e Brasil.