As tempestades e a força do mar engoliram este inverno "Gago Coutinho", o rochedo mais célebre do Algarve e um ex-líbris da praia de Olhos de Água, que ilustrou milhares de postais e fotografias de turistas.
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A destruição do "monumento natural" podia ter sido travada, defendem os pescadores locais. Os especialistas dizem que se trata da evolução da natureza.
Vicente Freitas, pescador reformado e ancorado à praia de Olhos de Água há 36 anos, está sentado no muro do calçadão e olha com saudade para o local onde até dia 02 de dezembro passado se erigia o leixão batizado com o nome do aviador português "Gago Coutinho".
"Não sei se foi dos trovões se foi o destino que já estava marcado", lança o pescador septuagenário. "Na maré-cheia parecia uma nau. Eu sentava-me aqui com o meu canito e ficava só a mirá-lo", recorda.
Segundo contam os moradores de Olhos de Água, foi numa madrugada de temporal e trovoada intensa que ocorreu a derrocada do "Gago Coutinho", ícone regional e nacional para milhares de veraneantes e turistas que viajam até ao Algarve.
Óscar Ferreira, geólogo da Universidade do Algarve e especiealista em erosão costeira afirmou que "manter o rochedo do ponto de vista artificial, acimentando-o, exigiria quase retirar-lhe todas as caraterísticas naturais. O que não é muito lógico, pois não seria isso que ia garantir mais segurança. O melhor é deixar a evolução natural ocorrer".
Ellaine Allen, uma turista inglesa que frequenta a praia há mais de uma década reparou na ausência do rochedo, mal chegou de férias este verão.
"Cheguei hoje e dei logo pela falta dele. É uma pena, era o ícone desta praia, mas suponho que não havia nada a fazer. É a natureza", afirmou conformada.
Gago Coutinho era um rochedo mítico pela beleza e originalidade, mas servia também de "farol" para quem procurava as nascentes de água doce que ainda brotam no areal de Olhos de Água quando a maré está vazia.
O famoso rochedo era também poiso para aves migratórias e chegou a servir de espécie de plataforma para os mais destemidos darem mergulhos.
Muitos rochedos já desapareceram tendo o primeiro sido "Sacadura Cabral", em meados dos anos 60.
"Acolá, à frente, está outro que qualquer dia também vai à vida", sentencia O velho pescador Vicente, apontando para um rochedo no outro extremo da praia.
Além do desaparecimento deste tipo de rochedo o Algarve tem assistido a derrocadas de arribas. A mais grave ocorreu em agosto de 2009, na praia Maria Luísa, em Albufeira, provocando a morte a cinco pessoas.
Desde essa altura que as autoridades procederam a cerca de 200 intervenções de desmonte de blocos de arribas consideradas perigosas.