O cemitério municipal da cidade de Santiago do Cacém, no Litoral Alentejano, está instalado dentro do único Castelo do concelho, o que causa surpresa e admiração aos turistas que o visitam.
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Para os turistas, a descoberta de um cemitério dentro do Castelo traduz-se em "surpresa", "admiração" e "desilusão", afirmou à agência Lusa a técnica do Museu de Arte Sacra, que funciona agora na Igreja Matriz, Olga Nanumava.
No Verão, segundo disse, a Igreja e o Castelo chegam a receber cerca de 2500 visitantes mensalmente e, nos meses mais frios, cerca de 300.
Se por um lado, Olga pensa que o Castelo está melhor conservado, por albergar um cemitério, por outro, considera que essa função faz com que muitos turistas "não entrem e voltem para trás", principalmente se chegam numa hora "em que está a decorrer um funeral".
O presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Vítor Proença, lembrou que existem "meia dúzia de casos" semelhantes no país e admite que esta situação cria alguns condicionalismos, como a "limitação de espaço" explicando que está em estudo a localização para um novo cemitério.
Apesar da intenção ser "travar os enterramentos naquele local", o autarca revela ser simultaneamente um "defensor de que não se devem retirar as campas actuais", justificando que esta é agora uma questão "afectiva e sentimental", já que é um local "com gerações e gerações de famílias".
O túmulo dos Condes de Avillez e do escritor Manuel da Fonseca encontram-se entre as centenas de campas do Castelo.
Com uma vista privilegiada sobre a costa, a cerca de 20 quilómetros, que pode ser apreciada com um passeio em torno da Barbacã, o Castelo "tem histórias para contar", tendo testemunhado, segundo reza a lenda, "as batalhas que decorreram", há centenas de anos, entre cristãos e árabes.
O castelo é um edifício classificado como Monumento Nacional desde 1910 e que conta mais de 850 anos de História.
As primeiras medidas de Saúde Pública do Estado português, a partir de 1838, estiveram na origem da criação do cemitério dentro do Castelo de Santiago do Cacém, à semelhança do que aconteceu noutras localidades do país, mas em Santiago do Cacém, os enterramentos ainda se fazem dentro das muralhas.
"A tradição era que os enterramentos se fizessem dentro das Igrejas ou nos adros", explicou à Lusa o historiador local João Madeira.
"À medida que o Estado se moderniza, passa a ter preocupações com a Saúde Pública e uma das primeiras medidas foi precisamente criar os cemitérios, que são espaços delimitados, murados, dentro dos quais se fazem os enterramentos segundo determinadas normas", acrescenta.
No caso concreto de Santiago do Cacém, a Igreja Matriz, também classificada como Monumento Nacional, era uma construção do século XIII, que estava já "fundida" nas muralhas, pelo que foi a solução "natural", já que o Castelo estava na altura "abandonado" e em "ruínas".
"Havia um espaço anexo à Igreja, murado, com as condições para ser cemitério e que poderia rapidamente transformar-se também num chão sagrado onde as pessoas pudessem enterrar os seus defuntos", especificou João Madeira^
* Agência Lusa