Centralização e taxas responsáveis por fuga de talento na conferência “Cidades em Debate”
A centralização e as altas taxas impostas às empresas são fatores responsáveis pela fuga de talento do nosso país, de acordo com os participantes em mais uma conferência do ciclo "Cidades em Debate".
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A sessão, realizada no Palácio da Bolsa, no Porto, teve como objetivo refletir sobre o papel das cidades na resposta aos grandes desafios da juventude.
Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, acredita que "o desenvolvimento económico da Região Norte é fundamental para os jovens terem oportunidades".
"Temos uma fuga de pessoas em direção à capital. Isso é preocupante e sintoma de um excessivo centralismo político e administrativo. Dos 698 organismos públicos temos 650 em Lisboa, o que faz com que as empresas se instalem na Área Metropolitana de Lisboa", explicou, acrescentando que "o desenvolvimento assimétrico prejudica o país e também a capital".
Já Óscar Afonso, diretor da Faculdade de Economia do Porto, defende ainda que as taxas elevadas afastam as grandes empresas, impedindo-as de gerar riqueza em Portugal. "Para reter os jovens temos de alterar a fiscalidade e reindustralizar. Há ainda a questão da absoluta centralização do país que é preciso reverter", salientou.
Por sua vez, Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, acredita que há um exagero de fiscalidade que "torna difícil trabalhar em Portugal", defendendo também que resolver o problema de habitação pode ajudar a diminuir as assimetrias. "As pessoas querem viver nos centros das cidades, porque é onde há emprego. Havendo uma melhor rede de transportes a população equacionava fugir a estas zonas", disse.
Aversão a grandes empresas
Segundo Nuno Botelho, outro dos problemas do país é a aversão a grandes empresas. "Esses grupos são bons porque podem contratar gente mais qualificada, pagar melhores salários e criar riqueza", garantiu.
Esta ideia é inteiramente corroborada por Óscar Afonso. "Existe uma cultura em Portugal contra as grandes empresas. Temos a taxa de IRS mais progressiva que pode existir. Há 11 escalões e nos últimos dois a taxa é de 50%, que são taxas confiscatórias e retiram o interesse das empresas de vir para o nosso país".