Centro de acolhimento animal “rejeitado” em Viana foi finalmente inaugurado
Estrutura construída na aldeia de Cardielos custou cerca de 800 mil euros. Chegou a ser alvo de fogo posto. Vai começar a acolher e tratar animais errantes a partir da próxima semana.
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O cão Trovão foi a primeira criatura de quatro patas a entrar no novo Centro de Acolhimento Temporário de Animais de Companhia inaugurado, este sábado, em Cardielos, Viana do Castelo. O pastor belga foi resgatado de um acampamento em Darque, há cinco anos, pela Resgate Adoção Viana (RAV), por ser potencialmente perigoso, e acabou por se tornar mascote daquela associação.
Ao lado do líder e fundador da RAV, Diamantino Barros [e do filho Rafael que trazia ao colo um pitbull bebé], entrou e farejou as novas instalações que a partir da próxima semana vão começar a acolher animais errantes. Aquele equipamento municipal, que custará ao município cerca de 800 mil euros (600 mil da obra mais cerca de 200 mil da aquisição de terrenos e apetrechamento do espaço), foi construído debaixo de polémica, tendo mesmo sido alvo de fogo posto em julho de 2022. Além de ter dado origem a uma ação no Tribunal Administrativo de Braga (TAFB) e um abaixo-assinado contra a construção.
O autarca de Viana do Castelo, Luis Nobre, recordou este sábado o longo e conturbado historial do projeto, que demorou "cerca de 15 anos" a ser concretizado pela sua não aceitação por parte de população, por causa dos alegados níveis de ruído que poderá implicar. Numa fase inicial, o projeto esteve até para ser construído noutra freguesia.
"Foi feito um protocolo para a sua construção na Meadela, junto à zona de atividades económicas, mas foi objeto de uma resistência muito grande e encontrou-se depois esta alternativa que foi objeto também de resistência e até de vandalismo, que custou ao erário 80 mil euros", descreveu o presidente da câmara de Viana, lembrando o prejuízo causado pelo incêndio que danificou parte da estrutura, enquanto decorria a sua construção numa zona isolada da aldeia de Cardielos.
"Isto leva-me a questionar [porque] hoje vemos numa hipotética atenção e sensibilidade para cuidarmos dos animais, mas no entanto quando se pretende construir um equipamento para os acompanhar, para lhes dar efetivamente segurança e tratar deles, há uma resistência", comentou Luís Nobre, considerando: "Há um paradoxo na sociedade. Por um lado entende que devemos disponibilizar estes serviços e equipamentos, mas depois também há uma parte da sociedade que não quer que eles existam. Acho que isto nos deve levar a refletir".
O Centro de Acolhimento Temporário de Animais de Companhia de Viana do Castelo vai iniciar atividade nos próximos dias com três funcionários, mas, segundo Luís Nobre, estão em curso diligencias para reforçar a equipa com a contratação de mais duas pessoas. E fica também em aberto, a possível ampliação da própria estrutura - "o terreno tem espaço para crescer", garantiu -, conforme as necessidades.
A veterinária municipal, Maria Rita Bezerra, é a responsável do centro, que dispõe de salas de tratamento, boxes e zona de quarentena, entre outros espaços. A técnica adiantou que embora as instalações tenham sido concebidas para acolher "entre 30 a 40 cães e gatos", pode também vir a receber outro tipo de animais errantes, como "vitelos, ovelhas, cabras, cavalos e até aves". O destino final será sempre na melhor das hipóteses a adoção.
"Este espaço foi concebido para colmatar uma falha que havia no município de Viana do Castelo, em termos de alojamento para animais errantes", disse a veterinária, indicando que ali serão acolhidos animais, em situação de emergência, que "não tenham vaga no centro de recolha oficial (em Ponte de Lima)", que funciona para os dez municípios do Alto Minho.
A fachada do centro de Cardielos conta com um mural pintado por um grupo de alunos de artes da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo(ESE-IPVC) , que representa animais domésticos.