O Centro de Recuperação e Interpretação do Ouriço (CRIDO), na Maia, único da Península Ibérica que se dedica exclusivamente ao tratamento e recuperação daqueles animais, está sobrelotado. As alterações climáticas têm vindo a afetar a espécie, alterando-lhe os hábitos, e muitos são recolhidos subnutridos e debilitados. Os pedidos de ajuda não param de aumentar.
Corpo do artigo
A história dos trigémeos Verde, Vermelho e Azul repete-se com inúmeros outros ouriços. Os irmãos foram encontrados subnutridos e ainda pequenos dentro de um balde, sem uma mãe que pudesse tomar conta deles. Foi no CRIDO que recuperaram e, por esta altura, a sua estadia está perto do fim. Mas quem trata dos ouriços não tem mãos a medir. As alterações climáticas têm vindo a pôr em risco a espécie, obrigando a trabalho redobrado na sua preservação.
Por causa dessas mudanças, os animais, que neste período deveriam estar a hibernar, encontram-se bastante ativos. Assim, o CRIDO está sobrelotado. "Não era suposto termos mais de 20 ouriços aqui no centro, no entanto contamos com quase 50, o que é uma carga muito grande para nós, uma vez que somos poucos e as nossas instalações são pequenas", adianta Tiago Vieira, vice-presidente da Associação Amigos Picudos e fundador do CRIDO, que funciona num espaço cedido pela Câmara da Maia.
As alterações climáticas têm consequências, também, na escassez de alimento. "Temos ouriços a entrar desidratados e subnutridos. A base da dieta é insetos e também eles têm vindo a desaparecer", desabafa Clarisse Rodrigues, presidente da Associação Amigos Picudos, coordenadora e também fundadora do CRIDO.
Para ajudar no trabalho, a associação tem conseguido reunir vários voluntários. Alicia Van Crombrugghe é uma veterinária belga que se encontrava a viajar pela Europa e que, através do Facebook, encontrou a página do CRIDO. Contactou o centro para fazer voluntariado. "É muito bom estar aqui porque já consegui aprender muitas coisas novas e é bom ajudar estes animais que neste momento precisam", explica a veterinária belga, que é acompanhada por Clarisse e por Tiago durante a sua estadia.
Susana Alves faz voluntariado há pouco tempo mas já constata as consequências das alterações climáticas na vida dos ouriços: "As crias nascem fora de época, as mães morrem e deixam os filhos sozinhos. Os animais deixam de fazer a hibernação, reproduzem-se fora de época e a alimentação é escassa".
Graças ao esforço coletivo, o CRIDO já conta com uma longa lista de animais recuperados que retornaram ao seu habitat natural e os membros da associação admitem que existe uma maior consciencialização por parte da população que se demonstra mais sensibilizada para a preservação dos animais.