Os funcionários da cervejaria Galiza, no Porto, estão em risco de não receber os salários no mês de abril devido à fraca faturação. Devido à pandemia da Covid-19, o estabelecimento pode apenas funcionar em regime de "take-away" refletindo-se numa quebra das receitas de mais de 80%.
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Para evitar a situação, os funcionários decidiram esta semana que não iriam pagar a renda do espaço, no valor de 1900 euros. O senhorio já ameaçou que se até sábado o pagamento não for efetuado, medidas serão tomadas.
"Isto não está a correr nada bem. A faturação baixou muito e já deixamos faturas da água e da luz por pagar", explicou ao JN António Ferreira, um dos três elementos da Comissão de Trabalhadores da Cervejaria Galiza. "Agora decidimos não pagar a renda, não só para termos dinheiro para pagar os salários no fim do mês, mas também para tentar forçar uma conversa com as advogadas das donas."
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Na impossibilidade de pagar a renda do espaço, o grupo de trabalhadores pediu à dona que assumisse esse custo. "O que foi recusado com o argumento de serem os trabalhadores, e não ela, quem está a gerar dinheiro", acrescentou Nuno Coelho, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte.
À espera do processo de insolvência controlada desde o final de fevereiro, acordada numa reunião que decorreu na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), os funcionários tentam manter o espaço a funcionar.
"As quebras nas receitas são superiores aos 80%. Estamos a gerir o dinheiro para fazer as compras diárias para manter o espaço a funcionar, mas prevemos que no final de abril só consigamos pagar aos trabalhadores 30% dos seus salários", lamentou António Ferreira.
Sem hesitações, António Ferreira, atirou que o impasse no processo de insolvência e a falta de resposta das donas da Galiza e a falta de compreensão do senhorio fazem parte de uma "negociata" com o "investidor oculto que tem vindo a impedir as negociações".
"Por um lado é desanimador, por outro, uniu ainda mais a equipa que perante a falta de repostas das donas do espaço, perceberam que não é altura de desistir", lembrou o porta-voz dos funcionários.
O dirigente sindical Nuno Coelho afirmou que as advogadas que representam as donas da Galiza estão a tentar cansar os trabalhadores com burocracia.
"O processo de insolvência deveria ter avançado no início de março, tal como se comprometeram a fazer na DGERT. Questionamos as advogadas, mas dizem que estão a avaliar e pedem documentos atras de documentos."
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Para o dirigente sindical, esta é uma situação que deixa os trabalhadores de mãos atadas. "Poderiam pedir eles próprios a insolvência, mas o processo seria ainda mais demorado. Além disso, não podem pedir a suspensão dos contratos por falta de pagamento pontual porque até agora conseguiram pagá-los", explicou Nuno Coelho.
Desde novembro, os trabalhadores já entregaram à entidade patronal cerca de 60 mil euros. "Já questionamos as advogadas sobre o destino deste dinheiro, mas não obtivemos resposta", acrescentou o dirigente sindical.
O JN tentou contactar as advogadas que representam as donas da Cervejaria Galiza, mas sem sucesso.
Os 28 dos 33 trabalhadores evitaram, em novembro, o encerramento compulsivo do estabelecimento e, desde então, gerem o espaço, recusando-se a "abandonar o seu posto de trabalho até que alguém dê a cara para que a situação se resolva", disse António Ferreira.
A tentativa de resolver as dificuldades financeiras passou pelo recurso a um PER, aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia.
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