A construção de uma nova estação para o comboio de alta velocidade em Santo Ovídio, Gaia, tem um custo estimado de 60 milhões de euros. As plataformas de espera para os passageiros terão mais de 400 metros de comprimento e ficarão entre 50 e 60 metros de profundidade. O plano foi apresentado esta manhã.
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Um projeto "complexo", afirmaram, esta manhã de quinta-feira, todos os intervenientes da apresentação do Plano de Pormenor para Santo Ovídio, em Gaia, a propósito da construção de uma nova estação para receber a linha de comboio de alta velocidade que promete ligar Porto e Lisboa em 75 minutos.
A dificuldade da obra está relacionada com a topografia do concelho, sublinhou, por várias vezes, o arquiteto responsável pela proposta de urbanização. Isto porque o comboio atravessará em túnel o concelho de Gaia, chegando a Santo Ovídio a uma profundidade entre 50 e 60 metros. Ao mesmo tempo, acrescenta Joan Busquets, a ferrovia exige "formas de curvatura distintas", obrigando a um traçado mais linear.
Mas caso houvesse dúvidas quanto à necessidade de construir uma nova estação em Gaia, (isto, quando a de Campanhã, a pouco mais de cinco quilómetros, também receberá a linha de alta velocidade), o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, desfá-las: "Com ligações à atual Linha Amarela e à futura Linha Rubi do metro, um passageiro que queira ir para a Boavista, sai mais facilmente em Gaia e apanha o metro [em Santo Ovídio] do que em Campanhã para ir para o outro extremo da cidade".
"A componente edificada" do projeto apresentado formalmente esta quinta-feira no Auditório Municipal de Gaia tem um custo estimado de 60 milhões de euros, clarificou aos jornalistas, no final da apresentação, o vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), Carlos Fernandes. Uma despesa "mais ou menos equivalente à da estação de Campanhã".
Dos 60 milhões de euros para a estação de Gaia, oito milhões de euros dizem respeito a expropriações e o restante é referente ao conjunto de edifícios e parque urbano que vão nascer à superfície, num terreno livre com cerca de 15 hectares. Não estão previstas demolições, adiantou Carlos Fernandes.
Este projeto é o reflexo de "uma vontade única de fazer cidade e redesenhá-la", notou o autarca gaiense.
Operação prevista para julho de 2030
Quanto à calendarização da obra, o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, explicou que o prazo para a entrega de propostas termina em julho, seguindo-se a fase de avaliação de cada uma. Terão depois de aguardar pelo visto do Tribunal de Contas para consignar a empreitada ao concorrente vencedor do concurso público lançado em janeiro deste ano. A nova estação em Santo Ovídio faz parte da primeira fase do projeto do comboio de alta velocidade. Para o troço de 70 quilómetros entre Porto e Oiã, que custará cerca de dois milhões de euros, está também incluída a estação de Campanhã e uma nova ponte.
"Prevemos que este contrato entre em vigor no dia 1 julho de 2025. Nessa altura, a concessionária acabará os projetos, fará o resto dos licenciamentos ambientais e prevê-se que no início de 2026 comece a obra. O período para projeto e obra é de cerca de cinco anos. Ou seja, cinco anos depois do dia 1 de julho de 2025, prevemos que este troço possa estar em operação".
"Todas as formas de intermodalidade"
Para o arquiteto responsável pela proposta de urbanização, Joan Busquets, com este plano "começa a definir-se um novo espaço e uma nova centralidade". Entre os edifícios previstos para o terreno livre entre a Avenida da República e a Avenida D. João II, vão juntar-se "todas as formas de intermodalidade". Além da linha de metro já existente, haverá parques de estacionamento para carros, uma central para autocarros, zona para táxis e até um parque para bicicletas.
Para descer até à plataforma do comboio, que terá mais de 400 metros de comprimento (os comboios com carruagem dupla têm 420 metros de comprimento), os passageiros terão dois acessos: um, a norte, a partir de um "vestíbulo" com cerca de 45 metros de diâmetro e que permitirá iluminar a estação, e outro, a sul, com um "olho menor, de 25 metros de diâmetro" e que permitirá aos passageiros, sem subirem à superfície, aceder diretamente ao metro.
Aliás, a assistir à apresentação estava também o presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga, bem como vários elementos da equipa do gabinete de projetos da operadora. O vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, fez até questão de salientar a forma como as duas empresas trabalharam para articular os dois projetos.
Ainda sobre a proposta de urbanização, e tal como o JN já havia noticiado em março, será também recuperada uma linha de água proveniente do Vale de Quebrantões, que acompanhará o espaço verde previsto para aquele terreno. Mais uma vez, a "topografia" determinou também que o parque tenha várias plataformas, oferecendo diferente praças de ligação. Para dar um exemplo do efeito pretendido, Joan Busquets, com gabinete de arquitetura em Barcelona, mostrou uma imagem das famosas escadas do Parque Güell.
Dos edifícios previstos, a maioria está destinada a comércio e serviços, mas também a habitação ocupa uma fatia do projeto, em particular junto à Avenida D. João II.
"É um novo modelo de desenvolvimento da cidade", concluiu o presidente do Conselho de Administração da Gaiurb (empresa municipal de Urbanismo e Habitação), António Miguel Castro.