Multidão junto ao mar às primeiras horas da manhã leva o pescado da arte xávega. Há gente de concelhos distantes e muitos turistas estrangeiros.
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"Compre a cavala que dá saúde, até faz crescer cabelo aos carecas". Os pregões ouvem-se a largos metros de distância, às primeiras horas da manhã, nestes meses quentes. E já não é só na marginal de Espinho, pelas vozes possantes das vareiras. Na praia, junto ao mar, uma enchente rodeia os pescadores da arte xávega para comprar o peixe mesmo a sair da rede, ainda a rabear. Vêm de todo o lado e até estrangeiros se juntam para assistir. O domingo é o dia forte.
O primeiro lanço chegou cedo, pelas 8 horas, e já há quem espere por ele. O povo madruga para comprar da primeira rede carregada. "Vim buscar peixinho, porque só compro peixe vivo", diz quem veio propositadamente de Marco de Canaveses. Serafim Monteiro garante que já leva mais de dez anos a viajar até Espinho. Vem mais do que uma vez nesta altura de verão. "Comprei cavalas", atira ele, acrescentando: "Era o que vinha na rede".
Os pescadores vendem a cinco euros a caixa, que dá para encher um saco difícil de carregar. Mas vale a pena, até porque, comenta quem passa, compram no verão já para o inverno. Também há quem chegue de câmara em riste só para registar o momento. "Gosto muito do aparato das gaivotas, até gravo com o telemóvel, é muito bonito isto", explica Arménio Fernandes, de Guimarães. Está de férias na Granja e aproveita para "ver sair o peixe". Não resistiu a comprar: "Cinco euros uma caixa inteira? É muito barato, vale a pena".
Rebuliço da faina também é atração mesmo para quem não quer comprar
Ainda esperou pelo robalo, que chegou mais tarde, já por volta das 11 horas. À chegada da rede, o pescador Fernando Pinto da Costa gritava: "Oh minha senhora, chegue para trás". Apresentou-se, mas sem antes garantir que o nome não o denuncia. "Sou Vieira", como quem diz ser benfiquista. Leva mais de 40 anos disto, e contou que "o mês de agosto é sempre muito turístico".
"Eles vêm todos e chegam cedo, gostam de ver, até se "botam" em cima da rede e não deixam trabalhar". Enumera portugueses, alemães, franceses e ingleses, mas diz apressado: "Isto não rende muito, até é dos anos mais fracos que temos tido". É Daniel Silva, 26 anos, também pescador, que confessa o que o mau feitio de Fernando não permite: "As vendas não pagam o trabalho, mas gostamos muito de ter esta gente à nossa volta, é com eles que ganhamos dinheiro".
Vareiras na marginal
Quando não compram os turistas, compram as vareiras e os comerciantes. Estão na marginal as senhoras que apregoam para as centenas que ali se concentram. Como deu cavala e robalo na pesca, é esse o peixe que mais sai. Enquanto os pescadores não param a venda ao público, não vendem muito. Elisa Cabeleira vende há 40 anos, e conta: "Há pessoas todos os dias de manhã nesta altura". Com o temperamento que lhes é afamado diz, de banca já quase vazia: "Isto está mau, o povo não compra nada". A agitação dura até meados de setembro, altura em que os emigrantes vão embora e a praia fica vazia.