Apesar do muito que já choveu neste outono, o concelho de Carrazeda de Ansiães e algumas aldeias do de Vila Flor continuam a beber água do rio Tua, transportada por camiões-cisterna.
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A barragem de Fontelonga, que chegou a ter menos de 10% da capacidade total de armazenamento, só agora inverteu a tendência de esvaziamento e começa a recuperar lentamente, pelo que o aporte externo vai manter-se ainda durante janeiro de 2023.
Devido à seca severa e extrema que afligiu Portugal este ano, centenas de aldeias de vários concelhos tiveram de ser abastecidas com água de outras proveniências, com recurso a autotanques, nomeadamente dos bombeiros voluntários. No caso de Carrazeda de Ansiães, município onde vivem cerca de 5500 pessoas, toda a população beneficiou do reforço do caudal da barragem de Fontelonga a partir do rio Tua.
Para evitar que a água acabasse no final de outubro, seis camiões-cisterna têm vindo a transportar 900 mil litros diários (apenas nos dias úteis) desde a albufeira da barragem do rio Tua para a barragem da Fontelonga e respetiva estação de tratamento. Uma operação que, ao todo, custa 380 mil euros, financiados pelo Ministério do Ambiente através do Fundo Ambiental.
77% da capacidade das albufeiras portuguesas foi atingida na segunda-feira, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente. O volume global tem vindo a aumentar, embora no sul haja barragens a menos de 20%.
Só que enquanto em todo o país há barragens, sobretudo as situadas em rios e riachos, que têm registado um grande incremento, a de Carrazeda, como não tem uma grande linha de água a fornecê-la, só agora está a começar a recuperar. O presidente da Câmara, João Gonçalves, tem visto chover com agrado, mas diz que "ainda é cedo para os munícipes ficarem sossegados e baixarem a guarda", já que "a tendência de descida do nível da água só se inverteu na última semana".
Fontanários vedados
Como a preocupação é com o longo prazo, "o plano de contingência vai continuar em vigor". Para além do transporte dos camiões-cisterna, continuam os apelos à poupança de água por parte da população e o acesso aos fontanários públicos mantém-se vedado. Um plano que "foi uma boa decisão", pois, segundo o autarca, permitiu que "não tenha sido necessário efetuar cortes no abastecimento".
Embora registem subidas de armazenamento, as barragens de Campilhas (8%), Santiago do Cacém, Monte da Rocha (9%),Ourique, e Bravura (11%), Lagos, são as que estão com menor volume de água.
Depois das aflições deste ano, a Câmara começou também o combate ao desperdício. "Perde-se metade da água que entra na rede", frisa João Gonçalves. Está já em fase final a empreitada de 500 mil euros que visou a troca da adutora que leva a água da albufeira de Fontelonga para a vila de Carrazeda e vai ser adjudicada "a substituição da conduta noutro troço importante, em termos de perdas, entre Castanheiro do Norte e Fiolhal".
Modificar a rede
Por outro lado, a Autarquia trabalha na elaboração de "um projeto para que se possa modificar a rede que transporta água desde a vila até Parambos, que já está a ter muitas avarias".
Em Alfândega da Fé a barragem de Sambade também continua com um volume muito baixo de água, o que obrigou a Câmara Municipal a reativar a estação de tratamento da barragem da Estevainha.
Projeto de nova barragem já tem estudo favorável
A construção de uma nova barragem no concelho de Carrazeda já tem o estudo de impacte ambiental favorável, embora com condições para mitigar impactos. O objetivo da Câmara é que sirva, primordialmente, para regadio agrícola no planalto de Ansiães, mas também para consumo humano em anos de seca, através do reforço da barragem de Fontelonga.
Segundo o presidente da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, a principal condição é uma intervenção de fundo na estação de tratamento de águas residuais, no sentido de impedir que venham a poluir a nova reserva. "Já estamos a trabalhar no projeto de requalificação e redimensionamento da estação, bem como no aproveitamento das águas residuais, com a possibilidade de as injetar na rede de rega, mas sem entrar na albufeira", esclarece o autarca.