Na Praça da República, no Porto, o dia começa bem cedo e termina tarde para as vendedoras de manjericos.
Corpo do artigo
Desde o passado dia 8, todos os dias montam as bancas por volta das 6.30 horas e dali só saem por volta das 22.30, persistindo num negócio que já conheceu melhores dias. Este ano, dizem, as vendas estão más. Mas há a esperança de que melhores dias virão.
"O negócio está mau. A chuva não tem ajudado", desabafa Margarida dos Anjos. Nas bancas ao lado, todas concordam. "Com a chuva e o frio, as pessoas não vêm comprar. Esperamos que nos próximos dias o tempo melhore", conta Alice Soares Campos, que se orgulha de ter os maiores manjericos à venda na Praça da República. Maria Campos vai mais além: "Está a ser um dos piores anos. Pode ser que nos próximos dias as vendas melhorem, mas, em relação aos anos anteriores, estou a vender muito pouco".
A situação já obrigou as comerciantes a baixar os preços de forma a atrair os clientes. Os vasos de manjericos que antes custavam 3, 5 e 10 euros custam agora 2,5, 4 e 8 . "É impossível baixar ainda mais os preços", disse Maria Campos. Com 61 anos, Maria já perdeu a conta ao tempo a que se dedica à venda de manjericos e de alhos- -porros (preço de cada pé varia entre os 3 e os 4 euros). "Ia sempre ajudar a minha mãe e acabei por ganhar este bichinho. Vendo manjericos na Praça da República há 14 anos, mas antes disso já vendia na Rua dos Clérigos", recorda.
Para a comerciante, "o S. João sem manjerico não é a mesma coisa" e, embora muitos ainda cumpram a tradição, as pessoas compram menos ( ou adquirem nos hipermercados) e Maria Campos não tem memória de um ano tão fraco. "Chego a vender apenas dois manjericos em quatro horas".
Servir de psicóloga
Ainda assim, não desanima e confessa que mantém o negócio não pelo que ganha, mas pelas amizades que foi criando ao longo do tempo com os clientes que a visitam todos os anos. "Vêm cá sempre comprar manjericos e para mim são como família. Acabo por ser também psicóloga, porque os clientes não se limitam a comprar, falam da sua vida, contam-me os seus problemas e o que lhes aconteceu durante o ano", relata. "É como se estivesse com eles todos os dias", conclui.