Chuva não travou estudantes que saíram às ruas de Lisboa pelo fim das propinas e mais ação social

Foto: João Relvas/Lusa
Algumas centenas de estudantes do ensino superior saíram à rua, esta terça-feira, para defender o fim das propinas e o reforço da ação social, com críticas ao Governo pelo descongelamento anunciado para 2026.
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Vieram de todo o país e nem a ameaça de chuva os demoveu de participar na manifestação convocada pelo Movimento Associativo Estudantil, que junta associações de dezenas de instituições de ensino superior.
Pelas 15.15 horas, mais de meia hora após o início do protesto e já sob chuva intensa, saíram do Rossio, em Lisboa, em direção à Assembleia da República, onde será hoje votada a proposta de Orçamento do Estado para 2026 (OE2026).
"A propina é para acabar, não é para aumentar", "Bolsas sim, propinas não" ou "Aumenta tudo, aumenta a luta" são algumas das palavras entoadas pelos estudantes, palavras de ordem bem conhecidas por muitos e que refletem problemas antigos e que os estudantes dizem agravar-se com o descongelamento do valor das propinas, anunciado para o ano letivo 2025/2026.
"Torna-se ainda mais urgente que os estudantes saiam à rua. É agora o momento de lutar pelos nossos direitos e temos que acabar com a propina", defendeu Elliot Ferreira, estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
É também a posição de Tomé Quadros, da associação de estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa que, questionado sobre o que motivou o protesto, olha para a mancha de universitários: "Acho que é muito óbvio".
Representante estudantil, Tomé Quadros relata falta de condições e cada vez menos jovens a ingressar no ensino superior, a que se soma agora o agravamento das propinas, cujo valor máximo, que não sofria alterações desde 2020/2021, vai passar de 697 para 710 euros a partir de setembro de 2026.
O ministro da Educação, Ciência e Inovação tem afirmado, para justificar a decisão, que as propinas não representam o custo mais significativo associado à frequência do ensino superior e que a prioridade do Governo é, por outro lado, reforçar o sistema de ação social, mas a opção política não convence os estudantes.
"Não é suficiente. Há muitos estudantes do ensino superior que não são abrangidos pela ação social, os serviços são muito insuficientes até para os estudantes que têm bolsas. Ouvir meras promessas de que a ação social vai aumentar e que vai ficar tudo bem não nos descansa de todo", argumenta Carolina Ferreira, da associação de estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Além das propinas, outro dos principais entraves à frequência do ensino superior apontados pelos manifestantes é o custo do alojamento com rendas a rondarem, em Lisboa, a rondarem os 500 euros mensais.
Para Elliot Ferreira, a resposta tem de passar pelo aumento da oferta pública, cujas mais de 19 mil camas previstas para 2026 continuam a ser insuficientes.
"Não podemos, simplesmente, estar a empurrar os nossos estudantes para o alojamento privado porque sabemos o que isso acarreta", sublinha o estudante do Porto.
Do Instituto Politécnico de Setúbal, Maria Velasques lamenta que "estudar é um direito e está a tornar-se um privilégio".
Durante mais de 30 minutos, os jovens percorreram o caminho até à Assembleia da República, cujo percurso habitual foi encurtado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) devido ao mau tempo. Cerca das 15:50, o grupo chegava à zona da Constituição, bastante mais reduzido em relação ao início do protesto, onde foram recebidos pelo secretário-geral do PCP, que elogiou a "grande capacidade de resistência dos estudantes".
"Já vimos este filme noutras ocasiões. Agora é um bocadinho e depois será o que for necessário", afirmou Paulo Raimundo, criticando o descongelamento do valor das propinas e defendendo, por outro lado, o fim deste custo para as famílias.
