O cálculo/estimativa da velocidade a que seguia o BMW oficial de Eduardo Cabrita, quando atingiu e matou um trabalhador na A6, resultou do trabalho de dois professores e investigadores do Departamento de Engenharia Mecânica, da Universidade do Minho, em Guimarães, ambos já com centenas de peritagens a acidentes de viação.
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Tratou-se de um trabalho científico exaustivo e meticuloso que obrigou os cientistas a efetuarem, dentro do próprio carro que esteve envolvido no acidente, uma reconstituição dos momentos que antecederam o atropelamento fatal.
Desde o início que a questão da velocidade a que se deslocava o BMW em que seguia o ex-ministro da Administração Interna - que se demitiu na sequência da acusação por homicídio negligente ao seu motorista - se tornou num tabu, alimentado pelo próprio Eduardo Cabrita. Tratava-se de um fator crucial para apurar a responsabilidade no acidente.
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Por isso, o trabalho dos professores Jorge Martins e Lúcio Machado revestia-se ainda de maior delicadeza. Segundo soube o JN, a reconstituição chegou até a obrigar ao corte da circulação na A6, para que, dentro do mesmo BMW, os peritos fizessem as diligências científicas necessárias para a obtenção de um resultado indiscutível. A reconstituição incluiu também testes de travagem para avaliar o tempo necessário à imobilização do veículo.
No final, os investigadores apuraram que, tendo circulado à média de 163 quilómetros por hora, o carro do ministro nunca rolou a menos de 155km/h nem a mais de 171km/h. Isto é, o motorista, Marco Pontes, ultrapassou largamente o limite de 120 km/h.
Jorge Martins e Lúcio Machado têm já no currículo centenas de perícias a atropelamentos rodoviários e uma vez mais foram requisitados pelo Ministério Público (MP) para, numa primeira fase, analisarem a dinâmica do desastre e ajudarem a magistrada do Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora a avaliar a conduta do motorista.
Concluiu o MP na acusação que Marco Pontes guiava com "manifesta falta de cuidado e de respeito pelas suas obrigações, não prevendo, como podia e devia, a possibilidade de embater com a viatura, em Nuno Santos". O trabalhador saía do separador central em direção a uma viatura de apoio que estava na berma direita sinalizando devidamente os trabalhos naquele local da A6.
Segundo a acusação, "atenta a velocidade que imprimia ao veículo e ao seu posicionamento na via (na faixa mais à esquerda do sentido Caia - Marateca) Marco Pontes "não conseguiu atempadamente parar a viatura nem desviar suficientemente a trajetória" de forma a evitar atingir Nuno santos.
Mais de um milhar de perícias feitas
Jorge Martins e Lúcio Machado têm sido chamados a fazer peritagens em todo o país, mas também na Europa (França, Suíça e Luxemburgo) e no continente americano (Brasil, Colômbia e México), num total de mais de mil perícias a acidentes rodoviários, cerca de três centenas tiveram a ver com atropelamentos mortais.