Cinfães. “Caminhamos a passos largos para ultrapassar 70% de cobertura de abastecimento de água”
Entrevista ao presidente da Câmara Municipal de Cinfães, Armando Mourisco.
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Não é fácil levar água a todo o lado em Cinfães devido às caraterísticas da orografia e ao número de povoações. Este concelho do distrito de Viseu ocupa uma área de 240 quilómetros quadrados, tem 14 freguesias e 502 lugares. Alguns estão a nove metros de altitude e outros a mais de 1300 metros. Significa que o abastecimento de água e o saneamento são difíceis de concretizar.
Apesar das dificuldades tem havido aumento da cobertura?
Sim, tem havido uma franca evolução positiva. Sobretudo na última década, em que mais que duplicamos o abastecimento de água à população, fruto de investimentos financiados por quadros comunitários de apoio e por fundos próprios. Caminhamos a passos largos para ultrapassar os 70% de cobertura de abastecimento de água, quando, há uma década, esse valor se situava na ordem dos 30%. Tem sido um tanto difícil dada a dispersão geográfica, a orografia e a heterogeneidade do território. Mas como foi estabelecida como prioridade, vamos continuar a insistir, apesar das dificuldades que continuarão sempre a existir.
Para tal, vai ser necessário construir novas infraestruturas?
Sem dúvida. Estamos neste momento a lançar candidaturas ao Portugal 2030 e iremos, no primeiro trimestre de 2025, lançar concursos para mais seis milhões de euros de investimento em abastecimento de água e águas residuais. Ainda assim, cada vez que agora se faz investimento, é preciso o mesmo dinheiro para fazer metade das habitações. Precisamente por causa da orografia e da dispersão geográfica. Contudo, temos de continuar a fazer esse investimento de forma gradual, bem planeado, para servir o máximo de população. Além dos seis milhões de euros, a nossa previsão é que precisaremos para a restante parte populacional, sobretudo para as aldeias mais isoladas da serra de Montemuro, mais 15 milhões de euros. Só assim poderemos atingir os 100%.
Qual é a percentagem de perdas de água no concelho?
Não tenho uma percentagem exata. Entre 2018 e 2023, tivemos uma redução de perdas na ordem dos 30%, fruto do investimento na renovação das redes já existentes e também nos sistemas de monitorização com recurso a novas tecnologias e à inteligência artificial. Houve uma redução drástica e hoje as perdas são mínimas.
Tem sido vantajosa para Cinfães a integração na empresa Águas do Douro e Paiva?
Mais que vantajosa. Seria completamente impossível, sobretudo num concelho com esta dispersão geográfica, termos hoje o abastecimento de água que temos sem essa parceria. É uma empresa altamente especializada, com uma elevada capacidade de resposta, eficácia, eficiência e de qualidade. Além do aumento gigantesco da qualidade, houve uma redução enorme nas perdas e um aumento absolutamente extraordinário da capacidade de investimento.
Como era antes?
O abastecimento era feito com recurso a captações em nascentes e furos artesianos. Muitas das vezes, a qualidade da água, por muito que se quisesse tratar, não reunia os requisitos essenciais e, portanto, era uma situação completamente diferente daquela que é hoje. Era preciso haver um controlo absoluto da quantidade de água que iria para as populações. Quantas vezes passei por isso como autarca de freguesia. Quantas vezes foi preciso regrar a água uma hora para uma rua, outra hora para outra. Porque a quantidade era manifestamente insuficiente, sobretudo nos meses de verão. Ora, com o aparecimento da Águas do Douro e Paiva, com as captações no rio Paiva e com o tratamento dessa água tudo isso deixou de existir e temos hoje quantidade mais que suficiente para servir a nossa população.
Como autarca de freguesia sabe bem o que é a reclamação do povo quando não há água em quantidade e qualidade.
Sei bem. Foram muitas as madrugadas que gastei a trabalhar nessa distribuição, juntamente com os funcionários, para poder satisfazer as necessidades mínimas de um banho de manhã, de água para cozinhar ou para a sanita. Sei muito bem o que é e por isso sou capaz de valorizar, e muito, aquilo que é o trabalho feito pelos sistemas de abastecimento.