Clube de Propaganda da Natação fecha piscina por via da fatura do gás a triplicar

Rui Moutinho, presidente do CPN
Pedro Correia/Global Imagens
Clube de Propaganda da Natação encerra piscina em Ermesinde e pede ajuda ao Governo para instalação de energias alternativas. Contas da energia triplicaram desde 2019. Mais de mil utentes em risco. Câmara de Valongo acode com a aquisição de bombas de calor.
O histórico clube de Ermesinde apanhou um valente susto com as faturas de janeiro, fevereiro e março: a conta total de luz e gás foi de 78 434 euros, exatamentre o triplo do período homólogo de 2019, que ascendeu a 60 mil euros e que já na altura e nos meses seguintes também não deixou de suscitar inquietação no CPN. Agora, não lhe restou alternativa que não fosse pedir ajuda ao Governo.
A Câmara de Valongo socorre o clube fundado em 1941, até por que está em causa um serviço público, frequentado por 1300 pessoas, entre as quais, além dos atletas de vários escalões e modalidades, outras centenas de utentes que ali acorrem ao abrigo de protocolos com instituições particulares de solidariedade social ou do Estado, designadamente aulas de hidroginástica para seniores alojados em lares da freguesia e do município. O problema é agravado pelo facto de as piscinas municipais de Ermesinde estarem encerradas, para obras.
"Com estas contas de energia, isto vai ser um problema para muitos clubes", afirma o presidente da Direção do CPN, Rui Moutinho.
Apelo a "solução urgente"
As preocupações do clube também seguiram para Lisboa, em carta endereçada à Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto (SEJD): [...] o CPN está na iminência de encerrar as portas e deixar assim mais de 1 300 utentes sem qualquer alternativa viável. Com o fecho das suas piscinas ficam sem aulas de natação centenas de crianças que aqui frequentam aulas de vários níveis de ensino, desaparece a componente de competição com dezenas de atletas, terminam as aulas dedicadas às camadas seniores e Ermesinde fica sem qualquer alternativa".
Além da natação, o CPN verifica que todas as outras modalidades do clube estão em risco, nomeadamente a secção de basquetebol feminino, que é uma referência da modalidade no panorama nacional (é o clube com mais jogadoras inscritas na federação). "É perante este cenário que vimos apelar a uma solução urgente que passe por um financiamento a fundo perdido e uma ajuda rápida para a instalação de fontes de energia alternativas", lê-se na mesma missiva dirigida ao Governo.
Mais eletricidade, menos gás
A Câmara de Valongo ajuda com a aquisição de bombas de calor, solução que ainda levará três meses a ser montada e que só terá eficiência plena se for alimentada com painéis solares.
Enquanto aguarda por resposta ao grito de alarme endereçado à SEJD, o CPN é acudido pela Câmara de Valongo. Na próxima terça-feira, a Direção do clube tem reunião marcada com o vereador do Desporto, Paulo Ferreira, para se encontrar a melhor solução.
As bombas de calor são o recurso imediato. E embora não cortem pela raiz a exorbitância da fatura energética, porque implicarão o dobro do consumo de eletricidade, estes aparelhos terão pelo menos o mérito de neutralizar a conta do gás.
O presidente do CPN estima que com estes dispositivos a fatura da luz dobrará, mas, em compensação, observa que será muito reduzida ou mesmo anulada a conta do gás, que anda à volta dos dez mil euros mensais. Ainda assim, o ganho imediato não é considerado suficiente para o clube suportar as despesas. "Espero que possamos obter mais apoios", afirma Rui Moutinho.
Da Câmara de Valongo chega a promessa de ajuda: "O aumento brutal refletido mensalmente nas faturas da energia elétrica e do gás é uma realidade que afeta a todos. Para fazer face a estes aumentos inesperados, a Câmara Municipal de Valongo está a adaptar-se para garantir que continuam em pleno funcionamento todos os equipamentos desportivos municipais, inclusive os pavilhões das escolas que agora são responsabilidade do município".
"No caso concreto do CPN - acrescenta fonte da Câmara -, é o único clube que possui piscina própria e essa piscina está ao serviço da comunidade ermesindense, sendo ainda mais relevante nesta fase em que a piscina municipal de Ermesinde está encerrada para obras. Por isso, decidimos apoiar diretamente o clube através da aquisição de bombas de calor para dessa forma reduzir drasticamente a dependência do gás e por consequência o valor da fatura do gás, baixando-a para valores que a coletividade possa comportar".
Oitenta anos de história
O CPN é um daqueles casos em que a sigla tomou derivação imprópria: a da marca que superou o objecto. Nasceu GPNP, de Grupo de Propaganda da Natação do Porto, em outubro de 1941, e foi rebaptizado CPN, três anos mais tarde, quando os fundadores, um grupo de amigos de Ermesinde, criaram nas águas límpidas do Rio Leça um tanque de 33 metros e oito pistas e ali instalaram uma das primeiras escolas de natação do país.
Seguiu-se uma história muito ligada ao rio - além da natação, polo aquático, campismo e pesca desportiva - e depressa a enchente transbordou para as mais diversas modalidades, do voleibol ao andebol, do hóquei em patins ao basquetebol.
Nos anos 1970 e 1980, o CPN atingiu o auge do ecletismo. Foi também um centro de atividade cultural e recreativa. No término do "trolley 9" também nasceu por lá uma certa tertúlia, entre damas e bispos, bailes, saraus e exposições.
Dessas décadas douradas sobram também as maiores glórias desportivas, no ténis de mesa, que deu alguns dos grandes campeões do emblema de Ermesinde. O "ping pong" com os maiores rivais, do F.C. Porto, do Benfica e do Sporting, era sempre um evento de grande alvoroço cepeenista, no que foi a sede do clube até meados da década de 1990, na Rua Rodrigues de Freitas.
A mudança para novas instalações, na Avenida João de Deus, trouxe também a construção das piscinas do clube, junto ao pavilhão municipal de Ermesinde. Ali se criou, então, o polo desportivo a que o CPN deu corpo nas últimas décadas.
Atualmente, movimenta cerca de quatro centenas de atletas, nas mais diversas modalidades. A natação e o basquetebol feminino são as âncoras do clube, que se tornou num dos maiores centros formadores do país nestas modalidades. No jogo das tabelas, tudo gira muito em torno de uma figura incontornável, a do treinador Agostinho Pinto, o senhor basquetebol.
É por toda esta pegada que o CPN pede socorro.
