Centenária agremiação do Porto tem planos para construir salão para eventos no topo do edifício da sede. Em breve dará entrada na Câmara um pedido de informação prévia.
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A completar 118 anos de existência, o Clube Fenianos Portuenses prepara-se para mais uma arrojada iniciativa. O objetivo passa por ampliar o edifício da sede, nos Aliados, no Porto, e criar um novo centro cultural na Baixa.
Vítor Tito, o presidente da histórica agremiação, é o principal impulsionador, coadjuvado pelo arquiteto Alexandre Ferreira, bisneto do também arquiteto Francisco Oliveira Ferreira, autor do projeto original, cuja primeira pedra foi lançada em 1920, num trabalho partilhado com o irmão e escultor José Oliveira Ferreira. "Está inacabado. Queremos concluir o projeto original", justifica o líder do clube, argumentando que se pretende "dar à cidade um equipamento diferente do Rivoli e do Coliseu".
Nos planos da direção, o imóvel, vizinho dos Paços do Concelho e emparedado pelas ruas do Clube dos Fenianos e do Dr. Ricardo Jorge, crescerá em altura. Terá mais um piso para salas de produção artística e outro recuado, onde encaixará um "salão para eventos, com entrada própria a partir da rua". É este novo complexo que Vítor Tito designa por "centro cultural".
AQui nasceu o tep
Teatro, música (nomeadamente, jazz), cinema, magia e ilusionismo já fazem parte do currículo do Clube Fenianos e a ideia é dar continuidade a este trajeto, embora a grande aposta seja o salão multifuncional no topo, com restaurante de apoio e vistas únicas. "Terá 2000 metros quadrados e capacidade para cerca de 750 pessoas", indica o presidente. Este polo será enriquecido com uma "componente residencial, que poderá acolher artistas estrangeiros", quando vêm atuar à cidade.
A ligação ao teatro é marcante. Foi nas instalações dos Aliados que nasceu o Teatro Experimental do Porto (TEP). Hoje resiste um palco, em madeira, com sinais da antiguidade e necessitado de uma renovação.
Património nacional
O trabalho técnico para dar seguimento ao que foi desenhado em 1920 está a cargo de Alexandre Ferreira. O arquiteto confirma que estão a "preparar o projeto" e adianta que "durante este ano" dará entrada nos serviços urbanísticos da Câmara do Porto um pedido de informação prévia, como é habitual neste tipo de casos.
Antevê-se uma intervenção complexa, pois trata-se de um imóvel classificado como património de interesse nacional, mas os responsáveis estão confiantes. Mesmo sendo prematuro, apontam para um prazo, "entre 2026 e 2028", para terminar a construção.
O prédio, que ocupa um quarteirão, carece de obras no interior. Por culpa da erosão do tempo e de intervenções que causaram estragos. Mas o legado é de respeito. Francisco Oliveira Ferreira foi o criador de outros edifícios emblemáticos, como o Café A Brasileira e a Confeitaria Serrana, no Porto, e a Câmara de Gaia, entre outros.
A título de curiosidade, de registar que para erguer a sede dos Fenianos foi lançado um empréstimo obrigacionista de 500 mil escudos (ou 500 contos, como se dizia na altura) aberto à população. Reunido o dinheiro, a empreitada durou seis anos e o clube ganhou casa própria, após ter arrendado um espaço na Praça da Batalha, onde depois se instalou o Cinema Águia d" Ouro, entretanto desaparecido para dar lugar a um hotel.
Devido à pandemia e aos confinamentos, só agora, com um atraso de dois anos, é que se realizará o ciclo de conferências evocativo dos 100 anos do prédio e do lançamento da primeira pedra. Ao recordar o percurso de vida da coletividade, entre outras iniciativas que deixaram boas memórias, deverão ser lembrados os famosos corsos de Carnaval dos Fenianos.