Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Castanheira de Pera enviaram contas de água a cerca de 50 munícipes na ordem das centenas e de milhares de euros, no final do ano passado, sem dar qualquer justificação relativa ao apuramento desses valores. Uma das faturas mais elevadas situa-se nos 10 mil euros.
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Pelo que o JN conseguiu apurar, esta situação terá a ver com o facto de, ao longo de anos, o cobrador dos SMAS ter comunicado apenas consumos mínimos, pelo que é possível que os moradores lesados tivessem pago valores inferiores à água que consumiam na realidade.
Além disso, sendo um meio em que todos se conhecem, era frequente os munícipes fazerem-lhe os pagamentos em numerário. "Chegava a ficar dois e três meses com esse dinheiro em casa. Os colegas dos SMAS tinham de andar atrás dele para o devolver", relatou ao JN um dos consumidores.
As queixas recorrentes contra este funcionário terão levado a Autarquia a instaurar-lhe um processo disciplinar e terá sido um colega a detetar as alegadas irregularidades, quando foi fazer a leitura dos contadores.
Uma das moradoras recebeu uma conta superior a 4000 euros, apesar de todos os meses liquidar o valor que lhe indicavam, o que a deixou incrédula. Convicta de que o funcionário não dava a leitura correta dos contadores, pagava-lhe em dinheiro, admitindo que esses valores não tenham chegado aos SMAS. "A Câmara não devia ter deixado as coisas chegarem onde chegaram, porque já havia queixas contra esse indivíduo há muitos anos", garante a mesma munícipe, que pediu anonimato. "Desconfiamos que fez uma trafulhice qualquer". Diz que a informação transmitida pela Autarquia foi que os mais de 4000 euros eram respeitantes a água que foi consumida, mas não paga. "E ninguém se apercebeu de nada, estes anos todos?", pergunta.
Casa desabitada paga mil euros
Ex-vereador da Câmara de Castanheira de Pera, Telmo Joaquim manifesta-se indignado por não ter sido apresentada qualquer justificação para a conta de água dos avós - com casa no lugar de Pera, onde há várias queixas - ter subido de "três ou quatro euros por mês" para 1092 euros, em agosto do ano passado. Nem quando foi enviada a fatura, nem quando o pai se deslocou à Autarquia para pedir explicações. Telmo não tem dúvidas de que algo está errado, tendo em conta que os avós não habitam na casa há 10 anos. "É claro que não gastaram essa água. Gastavam tanto como uma fábrica?", questiona. "Depois, percebemos que não iam contar a água há oito anos. A última leitura é de agosto de 2008", garante. "Podia ter sido um erro do funcionário, mas ninguém o questionava por que motivo indicava sempre o consumo mínimo?", estranha Telmo.
A presidente da Câmara, Alda Carvalho, recusou-se a comentar o assunto.
A prestações
Pelo menos um dos munícipes que recebeu uma das faturas da água de valor muito elevado terá sido chamado à Autarquia, para lhe proporem o pagamento em prestações.
Valores elevados
A habitante que recebeu uma fatura de água superior a 4000 euros para pagar garante que já tinha abordado várias vezes o cobrador dos SMAS por considerar os valores mensais muito elevados, em relação a outras famílias.