Pedido da histórica têxtil deu entrada no Tribunal de Guimarães. Recuperação da fábrica está na mão dos credores.
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A histórica fábrica têxtil Coelima, da vila de Pevidém, concelho de Guimarães, apresentou-se, ontem, a insolvência junto do Tribunal de Guimarães. A decisão visa avançar para um Plano Especial de Revitalização (PER) que possa salvar a empresa, mas a decisão e o destino dos 250 trabalhadores vai ser decidido pelos credores.
Em comunicado, a empresa diz apenas que "decidiu avançar com o pedido de insolvência, fruto da situação criada pela pandemia, que provocou uma forte redução das vendas e uma pressão sobre a tesouraria insustentável". No entanto, numa carta enviada aos trabalhadores, a que o JN teve acesso, a explicação é mais longa e revela que a pandemia "provocou uma quebra das vendas superior a 60%", o que levou a empresa a formalizar candidaturas aos apoios das linhas de crédito covid "que até à data não foram aprovadas".
Na mesma carta, a Administração diz que vai apresentar o plano de recuperação aos credores num prazo de 30 dias e que está "empenhada em prosseguir com a atividade da empresa", sendo que o sucesso "dependerá especialmente da aprovação urgente das referidas candidaturas das linhas covid dentro do prazo" de 30 dias.
A partir de agora, o Tribunal tem três dias úteis para declarar a insolvência e a empresa tem um mês para apresentar o PER. Se for aprovado pelos credores, entra em vigor, caso contrário a fábrica fecha.
Por ter sido anunciada de surpresa, a notícia da insolvência "caiu como uma bomba" junto dos trabalhadores, afirma Francisco Vieira, delegado sindical da Coelima e coordenador do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes. "Fui contactado para saber da minha disponibilidade para uma reunião hoje [ontem], mas não imaginava a ordem de trabalhos, sinceramente não estava a contar".
Francisco Vieira acrescenta que o sindicato "vai fazer tudo para não deixar cair a empresa e vai defender os interesses dos trabalhadores", motivo pelo qual serão agendados plenários de trabalhadores na próxima semana.
Ontem, às 17 horas, os funcionários estavam surpreendidos com a notícia. "Acabamos de saber, é uma surpresa, mas já se percebia que era uma questão de tempo porque estão a desmantelar isto há muito", asseverava um dos poucos que aceitaram falar sobre o assunto sob anonimato.
Uma delegação da Direção Regional de Braga do PCP também esteve à porta da empresa. "O nosso objetivo é constatar o estado dos trabalhadores com esta notícia que surpreendeu Guimarães", justificou António Gonçalves. Angelino Salazar, presidente da Junta de Selho São Jorge (Pevidém), manifestou preocupação: "Esperemos que não seja a morte da empresa, mas temos que acompanhar porque tem um impacto social muito grande".
História
A queda da têxtil que chegou a ser a maior do Mundo
Mais que uma fábrica têxtil, a Coelima era um universo de atividades que envolviam intervenção social, cultural e desportiva. Nos anos 60, com quase 4000 trabalhadores, chegou a ser a maior fábrica têxtil do Mundo, com habitação social, supermercado próprio, um orfeão, equipas de ciclismo e futebol. O maior bairro social de Guimarães, o da Emboladoura, foi construído com terrenos oferecidos pela empresa ao Estado para que aí pudessem residir os trabalhadores e outras pessoas com necessidades. Hoje, já sem a família Coelho Lima ao leme, praticamente todas as atividades foram separadas do grupo e o número de trabalhadores da fábrica é de 250.
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Fusão em 2011
A Coelima integra o grupo MoreTextile, que em 2011 resultou da fusão com a JMA e a António Almeida & Filhos e cujo acionista principal é o Fundo de Recuperação gerido pela ECS Capital, do Novo Banco.
100 anos em 2022
A Coelima celebra 100 anos em 2022. Foi fundada por Albano Martins Coelho Lima, um grande empresário e filantropo, responsável por uma relevante obra social no concelho de Guimarães e na vila de Pevidém.
Salários em dia
O montante total da dívida da empresa ainda é desconhecido, mas será conhecido na insolvência. Os salários estão em dia.