O colapso de um coletor de águas pluviais para onde também converge um ribeiro, na zona industrial da Arroteia, em Leça do Balio, Matosinhos, inundou instalações de 20 empresas, causando vários prejuízos. Para o local foram mobilizados meios dos bombeiros, para drenar a água.
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Os danos na infraestrutura terão ocorrido na sexta-feira, quando começou a fazer-se notar a acumulação de água na via pública e no interior dos pavilhões das empresas, mas a inundação agravou-se na manhã deste sábado, tendo sido mobilizados para o local meios de várias corporações de bombeiros. “O cenário é de uma inundação de grandes dimensões, que resulta do colapso de um coletor”, indica a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, que na tarde deste sábado acorreu à zona industrial da Arroteia, onde funcionam cerca de 30 empresas, indicando que "20 têm danos".
“Com um metro de água” no interior das instalações da empresa de automação industrial, Guilherme Pires contabiliza, desolado, um prejuízo “à volta de 700 mil euros em armazém, em material elétrico e pneumático”. “O interior está 100% coberto de água. É uma empresa com uma área de mil metros quadrados e está toda coberta”, lastima o sócio-gerente da AMMA Automation, que, à semelhança de outros empresários afetados, critica “o tempo de reação que a Proteção Civil teve para atuar”.
“O primeiro alerta que demos à proteção civil foi na sexta feira, às 15 horas, quando já tínhamos a empresa com água a nascer de dentro e percebemos que não íamos ter meios nossos para resolver a situação. A proteção civil interveio hoje [sábado], mais ou menos às 11 horas, e das sete até às 11 foi a sofrer constantemente”, diz Guilherme Pires, que adianta que “a empresa vai ter de parar” e estima voltar a tê-la a laborar “daqui a um mês”.
“A partir das 15 horas de sexta-feira começamos a fazer contactos com os bombeiros e com a proteção civil, e por volta das 19 foi quando começaram a chegar, mas não fizeram nada”, conta José Andrade, da empresa de climatização Dera, referindo que os meios “fecharam a rua à noite e foram embora”.
Também o vereador do PSD, Bruno Pereira, criticou, em comunicado, “a tardia resposta dos meios municipais de proteção civil”, apontando que foram para o local “sem os meios e equipamentos essenciais para responder às necessidades de socorro”. No entanto, ao JN, a coordenadora da proteção civil municipal, Susana Gonçalves, esclarece que, ao final da tarde de sexta-feira, quando a inundação se agravou significativamente, não havia condições para operar no local. “Foi necessário cortar a luz, e não havia visibilidade. Era impossível montar a operação logística que montamos hoje [sábado] sem colocar em risco os operacionais”, assegura.
Confirmando que o primeiro alerta por parte dos empresários da zona industrial da Arroteia surgiu “por volta das 15 horas”, Susana Gonçalves indica, contudo, que, tendo sido “chamados ao local para uma inundação na via pública, os bombeiros verificaram que não tinham como intervir, e que a mesma não era de grandes dimensões”. Os meios “voltaram a ser alertados às sete da tarde, porque a situação se tinha agravado, mas à noite não era possível ter os meios a funcionar com os operacionais em segurança”, realça a responsável, garantindo que, neste sábado, as equipas foram para o terreno “por volta das 7.30 horas, com moto-bombas”.
Entre vários telefonemas, Ricardo Teixeira, que dirige o departamento de conservação da Câmara de Matosinhos, explica que o problema que originou a extensa inundação na zona industrial situada
perto da Via Norte, nas traseiras da Efacec, ter-se-á devido ao “colapso” da estrutura onde corre a ribeira das Avessas, uma “linha de água entubada há mais de 40 anos”, a “seis metros de profundidade”. Lembrando tratar-se de uma situação “muito complexa”, o responsável refere ter ocorrido o “aluimento do pavimento” de um dos armazéns, situado à cota mais baixa, nível a que terá ocorrido o rebentamento do coletor. Numa empresa, “há um assentamento significativo dos pavimentos dentro do armazém”, o que resulta da “grande pressão hidráulica que está a ser feita no subsolo”, especifica o engenheiro.
Enquanto tentam “mitigar” a inundação, drenando a água, e localizar o ponto onde ocorreu a rutura, para desobstruir a ribeira, as equipas no terreno procuram também encontrar futuras soluções para o problema, tendo sido solicitada a colaboração da Faculdade de Engenharia e da Infraestruturas de Portugal – IP. A solução deverá passar por “fazer um desvio da linha de água”, adianta Ricardo Teixeira, avisando, porém, tratar-se de “uma obra muito complexa”. Tal como a desobstrução da linha de água, uma vez que “existem construções em cima”.
Salientando que esta “é uma situação excecional”, a autarca de Matosinhos explica, ainda, que as operações estão a ser desenvolvidas “com cuidado, porque não pode haver uma redução drástica do nível da água, senão o solo pode ceder e causar mais estragos”. Ao final da tarde deste sábado não havia, ainda, uma previsão sobre quando poderá estar concluída a drenagem da água. Ao JN, a coordenadora da proteção civil municipal adiantou que os serviços municipais vão reunir, na segunda-feira, com os empresários afetados, para efetuar "o levantamento dos danos e perceber como podem apoiar no processo de recuperação".
"A água não está a permitir a saída e entrada de pessoas em instalações vizinhas", nomeadamente de um motel e de um ginásio da zona, disse à Lusa fonte da Proteção Civil.
No local estão os Bombeiros Voluntários de São Mamede de Infesta, de Leça do Balio, de Moreira da Maia, Leixões, Pedrouços, Areosa/Rio Tinto, Gondomar e Valbom, bem como a Polícia Municipal.
À Lusa, cerca das 16 horas, o chefe de departamento de conservação da Câmara Municipal de Matosinhos, Ricardo Teixeira, indicou que foi detetado um problema no tubo coletor que atravessa um conjunto de armazéns.
"Temos de fazer com que o nível da água baixe. Primeiro estamos a usar bombas, depois temos de desobstruir o coletor que passa por baixo deste acesso às empresas e, não menos importante, aproveitar para desenhar uma solução para o futuro", referiu Ricardo Teixeira.
As duas fontes sublinharam que não existem vítimas a registar, mas Ricardo Teixeira lamentou os danos "já detetados na via pública", nomeadamente "buracos" e alertou que "num dos pavilhões o solo e as prateleiras começaram a ceder, tendo sido sustentadas com o auxilio de uma máquina".