Prejuízos avultados nas principais zonas produtoras, como Fundão, Resende ou Alfândega da Fé. Mas nem tudo é mau este ano: são boas e grandes
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A chuva e o frio dos meses de março e abril tramaram a vida aos produtores de cereja. Nas principais regiões produtoras do país, estimam-se quebras na produção assinaláveis, nomeadamente de 40% no Fundão e de mais de 60% em Alfândega da Fé relativamente a um ano considerado normal. “Os prejuízos serão muito avultados. Aliás, já estão a ser na cereja de cedo, que está a rachar devido à chuva”, revelou ao JN Luís Jerónimo, presidente da Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé.
Em ambas as zonas produtoras, a colheita está atrasada cerca de duas semanas relativamente ao habitual. “A maturação da cereja está atrasada. Todos os fatores climáticos das últimas semanas têm ajudado a que a cultura não se tenha desenvolvido muito bem. A floração correu mal”, lamenta Filipe Costa, sócio-gerente da Cerfundão, salientando que “esta cultura está em baixo, principalmente devido às amplitudes térmicas elevadas, com muito frio à noite, durante a floração e vigamento, o que faz com que as plantas não tenham uma normal execução”.
Depois do pior ano
Mesmo assim, no Fundão espera-se um 2025 melhor do que 2024, isto porque no ano passado a quebra de produção ficou 70% abaixo do normal. Foi dos piores anos de sempre em Portugal para esta cultura, cuja colheita representou metade da 2022, quando se atingiram as 24678 toneladas.
Mas nem tudo é mau este ano. “A quantidade deve ser baixa, mas a cereja tem excelente qualidade e bom calibre”, garante Filipe Costa.
Além dos problemas na floração, Luís Jerónimo, presidente da cooperativa de Alfândega da Fé, lamenta que o tempo chuvoso não esteja a ajudar em nada o cenário que já é mau. “Mesmo verde, a cereja está a rachar devido à chuva. Este ano é para esquecer. É mais um mau ano”, antecipou Luís Jerónimo que espera uma colheita ainda pior que a do ano passado. “Esperamos prejuízos avultados. Nos últimos anos tem sido assim, quando não é na floração é na altura da apanha. Este ano ainda não chegamos à apanha e já estamos com grandes prejuízos”, diz aborrecido.
Em Resende, também com previsões de queda, espera-se um certo alívio nos prejuízos devido à qualidade do fruto. “A cereja que já está madura é boa e até já estão a comercializar”, indicou Sérgio Pinto, envolvido na organização da feira da cereja. “Ainda não se entrou em plena produção, mas dentro de poucas semanas haverá muita cereja. Estima-se um ano razoável. Apesar do mau tempo ter prejudicado e haver menos quantidade, a qualidade é boa, o que valoriza o fruto e pode ajudar a minimizar os prejuízos da quebra”, acrescentou.
Apesar da quebra de produção, não faltará cereja nas feiras, festas e festivais dedicados ao apetecível fruto da primavera (ler ao lado). A cereja tem sempre mercado, apesar do preço. As primeiras do ano estão a ser vendidas a 20 euros a caixa de dois quilos. “As de cedo são sempre mais caras. Depois a tendência é para baixar ao longo de junho”, indicou Gil Ginja, diretor da Cooperativa de Alfândega da Fé, onde não se acalentam grandes expectativas sobre a produção global. “O ano está do pior. As últimas chuvas e as geadas do mês de março perturbaram”, indicou.
Municípios apostam nas feiras e festas
A Campanha da Cereja do Fundão começa no próximo dia 20, com a realização do leilão das primeiras. A Feira da Cereja do concelho realiza-se em Alcongosta, nos dias 6, 7 e 8 de junho. Em Alfândega da Fé, o município organiza a Festa da Cereja, nos mesmos três dias de junho. Estão previstos uma centena de expositores de produtos endógenos, dos quais 10 são produtores de cereja. Em Resende, o Festival da Cereja decorre aos fins de semana, nos dias 1 e 2, 8, 9 e 10 de junho, com uma mostra onde se pode adquirir o fruto ao produtor, a preços especiais.