Combate à solidão: "A minha vida era uma pasmaceira e agora sou uma reformada feliz"
"O programa melhorou a minha saúde e os meus relacionamentos". Quem o diz é Ana Pinto, 67 anos, que garante ter sentido uma grande evolução na sua vida pessoal desde que integrou o programa Sempre Acompanhados, coordenado pela Cruz Vermelha do Porto, cujo objetivo é fomentar redes relacionais para combater a solidão.
Corpo do artigo
Para assinalar o Dia Mundial da Consciencialização da Violência Contra as Pessoas Idosas (que se celebra domingo), o programa promoveu, na manhã desta sexta-feira, um flashmob, junto à estação da Trindade, no Porto. Dezenas de idosos empunharam cartazes que apelavam à dignidade, à empatia e ao respeito.
O momento começou com uma simulação sonora de um episódio de violência, o que chamou a atenção dos transeuntes, seguida por uma intervenção simbólica que pretendeu marcar o fim do ciclo de violência.
Esta iniciativa, sob o mote "o respeito não tem idade", contou com a parceria da Câmara Municipal do Porto, da União de Freguesias do Centro Histórico, da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima), da 12.ª Esquadra da PSP - Cedofeita, dos Médicos do Mundo, da Associação Monte Pedral e da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.
A coordenadora do Sempre Acompanhados, Ângela Ferraz, explicou que a missão deste programa passa por empoderar pessoas que sofrem de solidão - ou apresentem fatores de risco - além de tentar que se criem "relações de confiança e compromisso" com o ambiente que as rodeia.
"Percebemos o tipo de impacto que este trabalho tem nas pessoas e queremos fazer com que a sua vida mude para melhor", explicou, revelando ainda que neste momento o programa trabalha com 114 utentes, que foram chegando através das várias entidades parceiras. No total, a Cruz Vermelha do Porto já apoiou 170 pessoas desde 2022, ao abrigo desta iniciativa.
Esta tarde haverá uma sessão aberta no auditório da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, a partir das 14.15 horas, que inclui intervenções da APAV e da PSP, e um debate com perguntas elaboradas pelos idosos, de forma anónima.
Impacto imediato
Este tipo de programas pode mesmo ter um impacto imediato em quem está isolado ou apresenta fatores de risco, assinalou Ana Pinto.
"Trabalhava 16 horas por dia, domingos e feriados. Quando me reformei percebi que não conhecia ninguém. A minha vida era uma pasmaceira e agora sou uma reformada feliz porque acordo e tenho um propósito e um motivo para sair de casa", conta, entre sorrisos.
Esta versão é corroborada por Amadeu Pereira, de 74 anos, que encontrou no Sempre Acompanhados uma forma de adicionar outro tipo de atividades à sua vida. "Jogava todos os dias às cartas no Marquês com uns amigos, mas isso rapidamente se tornou monótono. Desde que entrei neste grupo exercito o cérebro de formas diferentes e foi das coisas mais espetaculares que já me aconteceram", salientou.
Como a solidão é um problema que pode afetar pessoas de todas as idades e estratos sociais, Ângela Ferraz fez questão de deixar um apelo: "Se conhecer alguém que esteja numa situação de solidão e acha que precisa de conversar, estamos sempre disponíveis e é só uma questão de ligar para nós ou para qualquer uma das entidades parceiras".