Há uma única via-férrea montada em parques públicos em Portugal. Tem 110 metros e está instalada na Quinta da Marialva, em Corroios, Seixal. Quando circula, quase sempre aos sábados, a miniatura de vapor vivo faz as delícias de miúdos e graúdos.
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A ideia partiu de António Sebastião, de 68 anos, que construiu com as próprias mãos, e sem recurso a desenhos, a locomotiva Santa Beatriz. "Demorou cinco mil horas a construir. Tem uma força bruta. Já transportou a mim e mais 12 crianças", diz, radiante por poder passar a sua reforma de chefe de mecânico de aeronaves da TAP a construir algo histórico. As máquinas que elaborou (já vai na terceira) "são muito semelhantes à realidade", garante o sexagenário, que iniciou este hóbi em 1998.
A locomotiva é transportada para o parque da Quinta da Marialva no automóvel de António Sebastião, mas demora ainda uns 20 minutos a estar operacional. Enquanto a caldeira não aquece, a máquina é lubrificada e abastecida com 10 litros de água, que enchem dois tanques.
Carvão na fornalha
Os preparativos para o início da viagem incluem ainda a colocação de carvão na fornalha. A caldeira começa então a deitar vapor, o que aguça a curiosidade de quem passeia no parque. Ninguém resiste a ver o que se passa. "Normalmente os clientes aparecem", graceja António Sebastião, já rodeado de meia dúzia de crianças ansiosas por andar no pequeno comboio.
Madalena Paiva, de 5 anos, fez até duas viagens, sempre sob o olhar atento do pai. No final confessou ao JN não ter tido medo apesar de ter sido a primeira vez que experimentou o vapor vivo, algo que nunca tinha visto.
"Entender o mecanismo é fantástico para as crianças e também para os adultos que nunca viram trabalhar uma locomotiva", reconhece o pai, Rui Paiva, de 33 anos, que apesar de residir no Feijó, Almada, já tinha reparado nos carris instalados no local, mas só agora descobriu do que se tratava.
Deslumbrados com o mini comboio estavam também os irmãos Tiago e Duarte, de Corroios. "Tudo o que é técnico, funcionamento e transporte é a melhor coisa para eles. E cada vez há menos coisas antigas, principalmente com motores", confessa a mãe, Melanie Wolfram, de 32 anos. "Este parque é particularmente agradável. E isto é só valorizar", considera, defendendo a criação de mais atractivos semelhantes ao comboio.
Junta investiu 2500 euros
O pequeno percurso, com 110 metros de extensão, é feito primeiro em marcha atrás e só no regresso os passageiros viajam de frente. É por isso que ainda este ano o circuito vai ser aumentado. "A ideia é ampliá-lo para fazer um circuito fechado", avançou ao JN Eduardo Rosa, presidente da Junta de Freguesia de Corroios, que gastou cerca de 2500 euros na implementação da miniatura de via-férrea e nos carris construídos por António Sebastião.
"Isto é o que costumamos chamar brincar aos 68 anos. Eu gosto é dos miúdos. Os mais velhos até fazem perguntas muito engraçadas", relata.
"Todas as peças, excepto os parafusos, foram feitas por mim na minha garagem", realça no final, enquanto arrefece o comboio, que estima ter um valor na ordem dos 125 mil euros.