Via rápida que vai ser construída diminui de 30 para 10 minutos a distância entre as duas cidades e tira trânsito dos atuais acessos.
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Há duas décadas que a população de Aveiro e de Águeda pedia uma nova ligação entre as duas cidades, visto que as atuais demoram cerca de 30 minutos a fazer. A nova, em perfil de autoestrada, vai demorar 10. Mas agora que a obra está mais próxima de acontecer, uma vez que os dois municípios se juntaram e conseguiram fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), nem toda a gente se mostra esperançosa com o futuro.
Há comerciantes, ao longo das estradas nacionais 230 e 235 - por onde atualmente se ligam os dois concelhos -, que temem que a diminuição do tráfego faça decrescer o volume dos negócios. Só têm um desejo em comum: tirar os camiões das suas portas.
Conceição Flamengo, de 79 anos, tem um minimercado à face da EN 230, em Eixo, Aveiro, e diz temer que a nova ligação rodoviária projetada lhe tire fregueses. "Temos muitos clientes de passagem, que são trabalhadores que andam na estrada e param para tomar café, comprar pão ou bebidas. Se tiverem uma estrada melhor, deixam de passar", prevê Conceição, para quem "o comércio pequenino sai sempre prejudicado".
Opinião distinta tem Álvaro Branco, alguns quilómetros à frente, dono da Passarolândia e do minimercado Cátia, na mesma localidade. "Só os camiões é que deviam ser tirados daqui. O resto não incomoda nada. Mas acho que, mesmo assim, o nosso negócio não vai ser prejudicado, porque vivemos muito dos clientes daqui", atesta. João Anacleto, proprietário da padaria 2002, em Oiã, também diz não estar preocupado, "para já". "Acho que quem tiver de passar passa na mesma", acredita.
Concluída em 2026
Com um custo estimado de 2,2 milhões de euros, a obra terá como entidades adjudicantes as câmaras de Aveiro e de Águeda, sendo financiada pelo PRR. E prevê-se que esteja concluída até ao final de 2026, até porque, se assim não for, o financiamento tem de ser devolvido. A ligação vai ser feita, a partir de Águeda, junto à "rotunda do Millennium" (perto da saída Águeda Norte do IC2), passando por Eirol, cruzando a A1 e a A17 e terminando no Parque de Exposições de Aveiro. Um percurso de 14 quilómetros, menos de metade dos cerca de 30 atuais.
Já no concelho de Águeda, em Travassô, o proprietário do café Casa Romi, Manuel Paulos, também se diz dividido quanto à nova ligação. Por um lado, acredita ser "uma mais-valia" para os dois concelhos. Por outro, "pode trazer consequências negativas para o negócio". "Tenho muitos clientes vendedores, que passam e param, e é possível que o negócio venha a decrescer", refere.
Também Elpídio Ferreira, da Petisqueira Oianense, em Oiã, junto à EN235, antecipa que vai perder clientes: "Pode estragar-me o negócio, porque a maior parte dos meus clientes são camionistas. Só não me preocupo porque já cá estou há 30 anos e não quero ficar aqui muito mais tempo".
"SONHO"
Autarquias ansiavam a empreitada
"O sonho de gerações está cada vez mais próximo". É assim que Jorge Almeida, presidente da Câmara de Águeda, vê o concretizar da nova ligação entre o seu município e o de Aveiro. E o edil aveirense, Ribau Esteves, sublinhou que "não há tempo para indecisões" e que a empreitada, cuja fase de candidaturas para elaboração do projeto já terminou em fevereiro - alegadamente com vários interessados -, tem de estar "executada, física e financeiramente, até final de 2026".
Por seu turno, Bruno Seabra, presidente da Junta de Oiã, vê a nova ligação como "progresso", mas pede "que não fique esquecida a requalificação da EN 235, que vai continuar a ser muito necessária". "A nossa freguesia é, cada vez mais, dormitório para gente que trabalha em Aveiro e que vai continuar a usar muito essa estrada", assegurou o autarca.