Percorrer as ruas em busca das últimas prendas na manhã da véspera de Natal já faz parte da tradição de algumas famílias e, em ano de pandemia, não foi diferente. No Porto, dezenas de pessoas caminharam esta quinta-feira pela Baixa.
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Percorrer a Rua de Santa Catarina na véspera de Natal é uma tradição na família de Humberto Chasse. A viver em Valongo, todos os anos, dedica a manhã do dia de consoada em busca das últimas prendas na companhia da mulher, Sandra Correia. "Faz parte do espírito de Natal. Há sempre qualquer coisa que deixamos para a véspera", explica Humberto, considerando haver mais gente nas ruas da Baixa do Porto em comparação com o ano passado. Ainda assim, eram raras as filas para entrar nas lojas esta quinta-feira de manhã.
"Nos outros anos costuma estar menos movimento. Este ano, talvez por causa das restrições ao fim de semana, o pessoal concentrou-se mais", referiu, numa alusão à proibição de circular a partir das 13 horas aos sábados e domingos. "No ano passado havia poucos portugueses, mas muitos estrangeiros. Este ano, não se vê turismo", acrescenta Sandra Correia.
Na noite de consoada, este ano, sentam-se à mesa apenas quatro pessoas. Humberto e Sandra contam com a companhia do filho e da nora. No entanto, devido à pandemia e à idade avançada, os pais de ambos não se juntam à família. "É o primeiro ano que não passamos juntos. Nem no Natal, nem no Ano Novo. Temos de os proteger. Para o ano, se tudo correr bem, faremos o dobro da festa", contou Humberto Chasse, sem esconder "alguma tristeza".
"A saúde tem de estar acima de tudo. Ando todos os dias na rua, em trabalho, e não sabemos se há o risco de passar alguma coisa aos nossos pais", sublinhou.
A escassos metros, Ana Silva e a mãe, Ana Amaral, aguardavam para entrar numa loja de perfumes e cosmética. Com as restrições à circulação, todas as prendas ficaram para a semana de Natal. "No ano passado, conseguimos resolver tudo à noite. Este ano, com a antecipação do horário de encerramento dos centros comerciais, tornou-se mais complicado", contou Ana Silva.
Mãe e filha escolheram comprar na Rua de Santa Catarina pela proximidade a casa. "Esta é uma rua maravilhosa. Trabalhei aqui durante 30 anos. Também é uma forma de apoiar o comércio tradicional", frisou Ana Amaral que, em duas horas, comprou todas as prendas em falta. A noite de Natal será celebrada em casa do filho, mas "só as pessoas de casa".
A trabalhar na Alemanha, a pandemia obrigou Carlos Luz a deixar as prendas para a última hora. "Normalmente, compro os presentes na Alemanha, mas este ano não consegui. Aquilo está um caos, os centros comerciais estão fechados e não anda ninguém na rua", contou ao JN o emigrante, que antes de apanhar o avião rumo ao Porto teve de ser testado à covid-19.
Ao lado, Lucília Silva passa com dois sacos na mão. Tem 52 anos, mora no Porto e admite ter gastado menos este Natal. "Estive em isolamento após uma criança no infantário onde trabalho ter apanhado covid-19. Ainda estou à espera que me paguem a baixa", lamentou.