Dono do imóvel é Pedro Pinto, da livraria Lello e da Lionesa, que quer ter livre o espaço na Rua do Loureiro, no Porto.
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A Confeitaria Serrana, situada na Rua do Loureiro e classificada como loja histórica na listagem municipal "Porto de Tradição", tem a continuidade em risco. Pedro Pinto, proprietário do imóvel, também dono da livraria Lello e administrador do grupo Lionesa, quer ter o espaço livre.
Por não haver acordo com os inquilinos, o caso seguiu para tribunal. Sem concretizar, Pedro Pinto adianta que o objetivo para o local, que também já funcionou como ourivesaria, é "construir um negócio sustentável, aberto a todos os portuenses e viajantes".
Mas não é só a confeitaria, afamada pelas bolas de Berlim e que tem inscrito nas paredes 1943 como o ano da fundação, que está em risco. Ao lado, a Pensão Douro e a Charcutaria Arcozelo enfrentam a mesma situação. Os espaços pertencem a Pedro Pinto. "Recebi duas ações de despejo. Contestei. [O proprietário] Não leva isto de mão beijada. Paga um valor justo pela indemnização ou dá o direito de opção. Tenho 78 anos, mas não me deixo ir abaixo. Quero cá ficar e dar continuidade ao negócio", diz Fernanda Monteiro da Silva, da Pensão Douro.
Autarquia Contestada
"Há 21 anos dei 21 mil contos pelo prédio. Entretanto, fomos fazendo obras. Gastámos muito dinheiro. O proprietário quer que saiamos daqui sem indemnização", protesta Fernanda, queixando-se de "pressões e chantagem". Ao JN, Pedro Pinto garante ter feito "propostas", contudo "não aceites", e adianta que se o tribunal lhe der razão pagará o valor "estipulado legalmente".
Na Confeitaria Serrana, outros dos seus marcos distintivos são as pinturas de Acácio Lino (1878-1956) e os dois anjos esculpidos por José de Oliveira Ferreira, no 1.º andar. Elementos decorativos herdados do tempo da ourivesaria.
Ora, arquitetura e imagem interior, assim como o espólio, são alguns dos pontos da classificação do "Porto de Tradição", mas, no global, Pedro Pinto, apoiado no parecer da empresa Globspot, entende que a confeitaria "não reúne os pressupostos para ser reconhecida pela Câmara do Porto como estabelecimento de interesse histórico".
Por isso, colocou uma ação no Tribunal Administrativo, salvaguardando sempre "o interesse de ser promovido o restauro e valorização dos elementos no primeiro piso". Ainda assim, é advertido que "o valor do primeiro piso não deve ser confundido, por si só, com o valor do estabelecimento, que pode ser substituído sem perda relevante para a cidade".
CONTROVERSO
"Bola de Berlim não é produto identitário"
Se há coisa de que se gaba a "Serrana" é ter sempre bolas de Berlim frescas, feitas no próprio dia. Para a Globspot, este doce não é identitário: "Sem desprimor das bolas de Berlim, especialidade da casa (destaque em várias publicações), não nos parece que haja aqui qualquer fator de unicidade ou originalidade. É um bolo que encontramos em praticamente todas as pastelarias e que não tem especial ligação ao Porto. Considerando o regulamento [do "Porto de Tradição"], a valoração deve ser zero no ponto relativo à marca ou produtos identitários da cidade".
Memórias
A vida de Mónica Oliveira, timoneira da Serrana, confunde-se com o último meio século da confeitaria. Há muitas memórias, mas também uma forte determinação em manter a atividade no número 52 da Rua do Loureiro.
Família
Manuel Melo, da charcutaria Arcozelo, onde vende produtos regionais, incluindo queijos, perde a conta aos anos que tem a casa. A Arcozelo foi sempre um negócio de família.