Grupo alega prejuízos e suspendeu o serviço em linhas "deficitárias". Município fala em incumprimento contratual.
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Filipa Ferreira, 34 anos, mãe de três filhos, de um, seis e 15 anos, vive em Areosa. Levanta-se todos os dias às 6 horas para levar as crianças à escola e costuma utilizar os autocarros urbanos para cumprir a sua rotina, que implica fazer "duas escalas" dentro da cidade. Ontem, teve de fazer parte do percurso a pé, porque a transportadora suprimiu o serviço nas linhas da cidade e freguesias de Areosa e Meadela, alegando prejuízos de exploração.
"Tenho três filhos, todos dependentes de autocarros. Hoje está bom tempo, mas já viu se estiver a chover? É um transtorno. Há muita gente prejudicada com isto", comentou, impaciente, Filipa, enquanto esperava, com um carrinho de bebé, no Interface de Transportes de Viana.
Na origem da supressão do serviço está um conflito entre o concessionário, o grupo AVIC, e a Câmara de Viana do Castelo por causa das compensações por Obrigações de Serviço Público, que, desde a pandemia, suprem os prejuízos da operação. E que pode mesmo até levar à quebra da concessão.
"Há incumprimentos. Neste momento [a rescisão contratual] ainda não está em cima da mesa, mas temos de ver qual é a legalidade da situação e as consequências. O impacto que isto vai ter", declarou Fabíola Oliveira, vereadora da Mobilidade de Viana do Castelo, que, face à decisão do grupo AVIC, colocou dois autocarros municipais a fazer transporte gratuito de passageiros no circuito urbano. Independentemente do desfecho, "a Câmara já assumiu que, no final da concessão em 2025, fica com a operação. Isso está mais do que assente", frisou a autarca.
O grupo AVIC reclama uma atualização das compensações para "285 euros até 100 quilómetros percorridos por autocarro por dia", alegando "subcompensação" e prejuízos decorrentes da inflação.
A autarquia não aceita a proposta. Segundo Fabíola Oliveira, dará "285 euros até 125 quilómetros por autocarro por dia".
Intervenção da AMT
"O que a câmara quer pagar não cobre os custos. As linhas suspensas apuram, por dia e por viatura, apenas 86 euros em média. Esse valor não serve sequer para pagar os motoristas. Por isso, tivemos de as suspender para mitigar esse prejuízo. São as linhas mais deficitárias", afirmou Ivo Cunha, da AVIC, argumentando que a atualização das compensações proposta foi "validada pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT)".
O grupo pediu à AMT, que intervenha e sensibilize as câmaras com quem não conseguiu chegar a acordo. Além de Viana, também Ponte de Lima não aceita a proposta.v