Primeiro dia da safra trouxe barcos cheios e com as capturas todas vendidas. Pescadores dizem que o peixe ainda não é muito grande, mas “é jeitoso”.
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“Os barcos vieram quase todos cheios. Vê-se muito peixe no mar!”, atira António Pereira, acabado de chegar ao porto de Leixões, em Matosinhos. O “Rumo à Pesca” trouxe 200 cabazes (4500 quilos) de sardinha. Vendeu-a a 80 cêntimos o quilo. “Ainda não é a sardinha gorda que pinga no pão”, mas, para o primeiro dia de safra, “foi muito bom”. Este ano, as conserveiras garantem a compra de metade das capturas aos 24 barcos da Propeixe - Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte. António Pereira abre o sorriso: “No final, ter o peixe garantido é o mais importante”.
“A sardinha ainda não é muito grande, mas é jeitosa”, afirmou, ao JN, o presidente da Propeixe, Agostinho Mata. No ano passado, havia 11 barcos nos chamados “contratos de abastecimento”. Este ano, a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) foi mais longe: as oito conserveiras nacionais que trabalham com sardinha garantem a compra de, pelo menos, metade do peixe pescado pelos barcos da Propeixe, a preços entre os 76 e os 88 cêntimos. O acordo foi assinado ontem. A adesão dos pescadores foi geral.
“É melhor do que não vender. Em dezembro de 2023, deitámos muita sardinha fora. Ninguém a queria. Tivemos que parar o barco”, explica António Pereira, lembrando o ano em que, com 37 642 toneladas para pescar, Portugal ficou a mais de dez mil toneladas de esgotar a quota.
No ano passado, as 29 560 toneladas esgotaram no início de dezembro. Este ano, há quase mais cinco mil toneladas para pescar e, a avaliar pela animação do primeiro dia em Matosinhos, “o ano tem tudo para correr bem”.
“Ainda está um bocadinho seca, mas o tamanho já é bom. No ano passado, começámos 15 dias mais tarde e estava mais pequena”, garante Pedro Santos, do “Mestre Lázaro”. Também ele trouxe os 200 cabazes permitidos. Vendeu-os a 20 euros o cabaz (88 cêntimos o quilo). Tudo para a conserva.
Otimismo
“Oxalá eles precisem de muito peixe, para ver se fazemos uma boa temporada”, atira. É que, em junho, vêm os santos populares, a sardinha é maior e o preço sobe, mas, findo o verão e a “febre” da sardinha na brasa, é preciso garantir o escoamento. Com os contratos “é seguro”, diz, satisfeito com um “muito esperado” regresso ao mar.
“Estávamos parados desde o Natal. É muito tempo”, reclama Gumercindo Rajão, do “Rumo da Senhora da Guia”. 64 anos de vida, quase 50 de mar. Garante que, “para o primeiro dia, não foi mau” e, por este andar, no S. João, a sardinha está “no ponto”. Só espera que os preços compensem.
Agora, só falta sair a certificação MSC (Marine Stewardship Council) da sardinha ibérica, que, fruto da rutura nos stocks, Portugal perdeu em 2014. A partir daí, as conservas portuguesas terão aquele selo de pesca sustentável. Jerónimo Viana, da Associação Nacional da Pequena Pesca do Cerco, acredita que “está para muito breve”, virando-se essa “página negra” na pesca da sardinha.