Coração de Bruno parou de bater numa aula. Sobreviveu, mas precisa de ajuda para recuperar
O jovem de 18 anos, de Valadares, Gaia, sofreu uma paragem cardiorrespiratória no final de 2023, deixando-o com graves sequelas e uma incapacidade de 95%. A família lançou uma campanha para angariar verbas para as terapias intensivas, e o Rotary Club de Gaia vai organizar um jantar solidário no próximo dia 29.
Corpo do artigo
À entrada do quarto de Bruno está um painel com mensagens de apoio de familiares e amigos e fotografias que não deixam esquecer a outra vida do atleta de remo de Valadares, de 18 anos, que está refém do próprio corpo desde o final de 2023, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória que lhe roubou quase tudo, incluindo o sonho de ser mecânico de Fórmula 1.
Uma das fotos - ele de t-shirt preta, bonito, sorridente, o olhar todo iluminado - foi disparada dias antes de o coração ter parado de bater sem aviso, atirando-o ao chão do ginásio onde apenas deveria ter tido mais uma aula de Educação Física, naquele 6 de novembro que a mãe, Ana Plácido, jamais conseguirá apagar da memória.
Em cima da cómoda estão mais fotos, estas emolduradas, e Bruno Pires está deitado em frente, na cama articulada que lhe ampara o corpo de 1,85 metros todo tolhido e hirto que os pais querem resgatar à paralisia cerebral, com a ajuda de terapias intensivas. Entre tratamentos e deslocações são cerca de três mil euros mensais, uma despesa exorbitante para a qual a família precisa da solidariedade de todos.
O gato Balu, que está sempre perto de Bruno, como quem protege, enrosca-se junto às pernas do rapaz. Ana afaga a cabeça do filho, para quem pede todo o apoio possível. Não esquece: “Aconteceu logo às 8.30 horas. Era uma manhã em que estava muito trânsito em Gaia; tinha havido três acidentes, e ele chegou atrasado à escola. Ia começar a fazer a aula de Educação Física, mas nem iniciou: desmaiou e caiu inanimado ao pé da baliza”. Bruno tinha 16 anos. Estava no 11.º ano, queria fazer a licenciatura em Engenharia Mecânica Automóvel, tocava trompete e era atleta federado de remo, realizando, por isso, exames médicos anuais, os quais nunca acusaram qualquer problema de saúde.
Funcionário da escola fez reanimação
Naquele dia, Ana Plácido já só voltou a ver o filho ligado a uma ECMO - máquina que substitui o coração e os pulmões, oxigenando o sangue fora do corpo -, nos cuidados intensivos do Hospital Santos Silva, em Gaia, de onde foi transferido, horas depois, para os intensivos pediátricos do S. João, no Porto.
“No Colégio de Gaia estiveram muito tempo a tentar ligar para o 112 sem terem resposta, e um colega do Bruno ligou à mãe, que é enfermeira, a explicar a situação, e por telefone ela disse o que fazer. Foi o senhor Augusto, que é contínuo, quem fez o suporte básico de vida até à chegada do socorro. Costumo dizer que ele é um anjo na Terra”, agradece a mãe do jovem, também grata aos “médicos do INEM, que não desistiram dele, apesar de não ter respondido ao desfibrilador, e o levaram para o hospital”.
“Exames inconclusivos”
Passaram quase duas horas até se reverter a paragem cardiorrespiratória, e Bruno “ficou com lesões cerebrais que comprometem muito a vida dele, sobretudo a nível físico”, e com “95% de incapacidade”, explica Ana Plácido. O adolescente esteve três semanas nos Cuidados Intensivos - cinco dias em ECMO - e 10 meses no internamento de Pediatria, a que se seguiu meio ano no Centro de Reabilitação do Norte, onde foi proposto aos pais que o colocassem “numa unidade de cuidados continuados, o que estava fora de questão”.
Até hoje, a medicina não descobriu o que fez o coração de Bruno parar de repente, sem motivo. “Os exames foram inconclusivos; não detetaram nenhuma patologia”, resigna-se a mãe de Bruno, aliviada, contudo, por não ter sido identificado qualquer problema no filho mais novo Rafael, de 14 anos. Agora, o foco é na reabilitação do mais velho. “O nosso sonho é que ele tenha alguma autonomia. Não sabemos se isso é possível, mas vamos tentar tudo. Para isso, ele tem de ter as oportunidades. No Estado, encolhem os ombros, porque pensam que o Bruno não vai passar disto”, diz Ana Plácido, que não encontrou tratamentos intensivos no serviço público.
Eventos
Jantar e caminhada para angariar verbas
Bruno faz terapias diárias e intensivas numa clínica em Espinho, incluindo fisioterapia e terapia da fala. Para fazer face às despesas, a família criou a campanha solidária “Unidos pelo Bruno”, com páginas nas redes sociais Facebook e Instagram, e têm sido organizados eventos. Como um jantar no próximo dia 29, promovido pelo Rotary Club de Gaia e cujo custo é de 60 euros, visando angariar 22 mil euros, e uma caminhada a 22 de junho, organizada pelo Clube Naval Infante D. Henrique, em Gondomar, onde Bruno praticava remo. Também podem ser feitos donativos através do NIB 0193 0000 10502046823 54, de MBWay (910973657 ou 935004345) ou PayPal (910973657).
Saber mais
O que é uma PCR
A paragem cardiorrespiratória (PCR) consiste numa interrupção súbita das funções cardíaca e respiratória, impedindo a circulação sanguínea e consequente irrigação do cérebro. Sem oxigénio, as células cerebrais morrem em poucos minutos, causando graves sequelas – motoras e/ou cognitivas – na vítima.
O que fazer
Além de ligar de imediato para o 112, deve-se iniciar manobras de suporte básico de vida, que consistem em compressões torácicas (massagem cardíaca), para fazer o sangue circular, e ventilações (respiração boca a boca), para dar oxigénio aos pulmões.