Concerto inserido no arranque das celebrações dos dez anos do pontificado de Francisco está agendado para este sábado, no Vaticano, e conta com a participação de 24 pequenos coralistas de Gondomar
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Deles não se poderá dizer que foram a Roma e não viram o Papa. São 24 crianças de uma escola de música de Gondomar e vão fazer o que não está ao alcance de qualquer um: cantar para Francisco, neste sábado, numa cerimónia inserida no arranque das celebrações dos dez anos de pontificado, que se assinalam a 19 de março de 2023.
Os últimos dias foram de grande azáfama na escola de música Pausa. É lá que reside o coro Crescendi, a única formação portuguesa que a cantar para o Papa Francisco no evento. Na maioria italianas, são 1300 as pequenas vozes reunidas num concerto a transmitir pelo canal do Vaticano no Youtube, quando forem 10.30 horas em Portugal continental.
Os preparativos começaram em janeiro, mas a história desta viagem, para muitos inimaginável, está a ser escrita desde 2019, quando o Crescendi passou a fazer parte da Galassia dell"Antoniano. Trata-se de um conjunto de coros infantis que seguem o espírito e os projetos de solidariedade da instituição religiosa de raiz franciscana Antoniano de Bolonha, que organiza o Sequim d"Ouro.
Tal como os outros coros da Galassia dell"Antoniano, o Crescendi usa o repertório daquele festival infantil, que Portugal venceu em 1980 com Maria Armanda e a canção "Eu vi um sapo". A paixão pelo Sequim d"Ouro já tinha sido o motivo que levou a diretora da Pausa, Maria Manuel Monteiro, a fundar, há uns anos, o coro Pequenos Cantores de Gondomar.
Esse projeto foi abandonado, mas acabou por renascer em 2016, pela mão da antiga aluna Beatriz Correia, também ela apaixonada pelo festival. Tal como anteriormente, os temas interpretados por estes miúdos são adaptados para português, "adequados à idade deles e com algum conteúdo lúdico", segundo a fundadora do Crescendi.
"Têm trabalhado muito, porque sabem que é uma oportunidade única", refere-nos a maestrina, numa alusão ao empenho destes pequenos coralistas na preparação do concerto. Foi preciso ensaiar mais vezes e, não menos importante, aprender a cantar em italiano, língua que não é tão intuitiva quanto se possa pensar. Ainda assim, o mais complicado foi fazer com que o concerto não seja maçador: "A ideia é que se divirtam e gostem do que estão a fazer".
Dias antes da partida para Roma, entusiasmo era coisa que não lhes faltava. E algum nervosismo também, ou pela responsabilidade de cantar para o Papa, ou porque muitas destas crianças nunca viajaram sem os pais.
"Estou nervosa mas também estou feliz, porque tenho o sonho de ser cantora e isto vai contribuir para a minha carreira", disse-nos Ariana Rodrigues, de 10 anos. Com a mesma idade, Isis Rocha salientou a qualidade vocal do grupo, ao referir que "tem várias vozes incríveis".
Sem dificuldades no italiano, Isis explicou o seu segredo: "Quando acabo os trabalhos de casa, vou logo ouvir as músicas". Tal como Ariana, Gustavo Gomes, de 12 anos, está entre o leque de meninos que nunca viajaram para tão longe sem os pais. Mas tinha outra preocupação: "Acho que vai ser estranho, porque é uma cultura diferente".
O Crescendi tem mais de 30 elementos. Segundo a maestrina, a escolha dos 24 para o concerto do Vaticano baseou-se em critérios como a idade (prioridade aos mais velhos), a antiguidade e a assiduidade nos ensaios.
O convite foi dirigido ao coro de Gondomar como reconhecimento pelo trabalho feito enquanto membro da Galassia dell"Antoniano. "É um evento que dificilmente teremos oportunidade de repetir", conclui Beatriz Correia.