Quase 40% das empresas do distrito de Aveiro tiveram de suspender atividade em algum momento por causa da pandemia, de acordo com um inquérito realizado, em maio, pela Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA), a 425 empresas do distrito, para mensurar os impactos da covid-19 no tecido económico.
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De acordo com o estudo, 38,8% das empresas responderam que tiveram de suspender a atividade, contra os restantes 61,2% que afirmam não ter tido que o fazer. O número de trabalhadores afetados pela suspensão das atividades causadas pela covid-19 foi de 4238 trabalhadores.
Este é um dos temas que será debatido, sexta-feira, na conferência "Aveiro no Centro da resposta à pandemia", que o JN organiza no Centro de Congressos. A iniciativa integra o ciclo de conferências JN Praça da Liberdade e pode ser acompanhada em jn.pt e tsf.pt.
Segundo o estudo, o impacto sentido pelas empresas no que diz respeito à procura dos clientes foi muito forte para 40,5%, enquanto 30,4% consideraram o impacto forte e 21,6% moderado. Na tesouraria, os efeitos não se fizeram esperar. O impacto foi muito forte para 28,2% das empresas e forte para 31,1%. No final do ano, o impacto previsto é muito forte para mais de metade (53,6%) das empresas que participaram no inquérito e forte para 34,4%.
Turismo arrasta comércio
Um dos setores mais afetado foi o turismo, com as ruas da cidade de Aveiro a ficarem quase desertas entre maio e junho. Em agosto, porém, notou-se alguma retoma, sobretudo devido ao público nacional. Uma sondagem feita pelo Turismo Centro de Portugal aos estabelecimentos hoteleiros na cidade de Aveiro revela que, em julho deste ano, a taxa de ocupação foi de 47,4%, comparativamente com igual período de 2019. No passado mês de agosto, a ocupação situou-se nos 70,7%, face ao período homólogo de 2019.
Jorge Silva, da Associação Comercial de Aveiro, receia que a queda do turismo arraste muitos pequenos negócios familiares, que "viviam da venda aos turistas". O comércio de retalho, explica, "sente um impacto enorme por causa da pandemia, porque ainda não tinha recuperado da crise anterior".
António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), diz que no futuro próximo "vamos assistir ao desaparecimento de muitos modelos de negócio, principalmente micro realidades empresarias". O problema do setor turístico, acrescenta, "vai arrastar para a falência muitas pequenas e médias empresas que vivem muito assentes nesta atividade económica, inclusive a restauração". Mas há outras, diz, que se estão a "reinventar": no setor têxtil há quem se tenha virado para a confeção de máscaras, a restauração desenvolveu o takeaway, o comércio online cresceu e a venda de bicicletas disparou, criando emprego.
Bicicletas são exceção e criaram 500 empregos
Entre os setores que estão em contraciclo e que encontraram na pandemia uma oportunidade de crescer, está o das bicicletas, já que os modos suaves de deslocação individuais sofreram um aumento. A maioria das empresas estão localizadas na região de Águeda, onde, desde o início da pandemia, foram criados "cerca de 500 empregos", disse, ao JN, Gil Nadais, secretário-geral da Abimota, a associação que representa o setor das duas rodas em Portugal.
Portugal lidera atualmente a produção de bicicletas na Europa, com 2,7 milhões de unidades produzidas, segundo o Eurostat, o gabinete de estatística da União Europeia.