A centenária Peregrinação Diocesana ao Sagrado Coração de Jesus no monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, poderá este ano não se realizar, pela primeira vez, devido à pandemia da Covid-19.
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A procissão que nasceu do "milagre" do fim da peste pneumónica de 1918, que assolava a população de Viana do Castelo, está incluída no período até 30 de Junho, previsto pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, como medida de contenção, para não realização de festas, romarias e eventos associados. A peregrinação que anualmente arrasta milhares de pessoas ao monte de Santa Luzia, no domingo após a celebração do Corpo de Deus, está este ano prevista para 21 de junho.
"Estou convencido que estando as coisas por este caminho e prevendo-se que o pico seja em maio, não sei se naquela altura haverá condições para a realizar. De qualquer modo temos de nos ajustar às indicações da autoridade de saúde", declarou ao Jornal de Notícias, o Reitor do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, padre Albino Fonseca, referindo: "Esta peregrinação nasceu também de uma peste. Falei nisso na última celebração que fiz no templo num domingo, que foi no dia 8 de março. Disse que estávamos num sítio que era considerado pelo povo, que em circunstâncias idênticas tinha acorrido ao Sagrado Coração de Jesus, fazendo uma peregrinação que a partir daí já por cem vezes tem sido lembrada".
A peregrinação anual agora organizada pela Diocese de Viana do Castelo e pelo Apostolado da Oração, realizou-se pela primeira em 10 de novembro de 1918. A população da região, assolada pela pneumónica, prometeu subir ao monte de Santa Luzia e fazer a consagração à imagem do Sagrado Coração de Jesus, se a peste parasse. A que ficou conhecida por "gripe espanhola" que dizimou milhares de pessoas, parou e a promessa começou a ser cumprida em 1921 e passou a ser repetida todos os anos. A esta acorrem todas as paróquias do arciprestado de Viana do Castelo.
"Se este ano não se realizar, creio que será a primeira vez desde então", afirmou o Reitor do Santuário, referindo que o Sagrado Coração de Jesus, é hoje em dia encarado "por muitos fiéis como um patrono da peste". "Vejo que as pessoas apela pelo fim desta pandemia", admite, mas alerta: "Há uma inclinação para isso e a fé é importante, mas, às vezes, o milagre também é feito por nós, quando acedemos a todas as indicações da Direção Geral de Saúde (DGS)". "Temos que dobrar a nossa vontade e ficar dentro de casa. Como é que queremos milagres, se a gente vai passear de um lado para o outro? É como querer ganhar a lotaria sem comprar o bilhete", conclui.