O tempo passa, nada acontece no quarteirão de D. João I, localizado no centro do Porto, agora transformado num enorme buraco, e o sentimento geral é de estupefação, misturado com alguma revolta.
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A obra no empreendimento Bonjardim City Block, nos terrenos da antiga Casa Forte, parou há cerca de um ano e as reações seguem num sentido crítico: os comerciantes da zona dizem que o impasse é mau para os negócios e os moradores falam em insegurança, sobretudo à noite.
Há um ano, no gaveto emparedado pelas ruas de Sá da Bandeira e do Bonjardim, e pela Travessa e Rua Formosa, a empreitada decorria a todo o vapor, mas, subitamente, os trabalhos foram interrompidos e o que está à vista, por trás da vedação, é uma grande cratera com cerca de 15 metros de profundidade.
Inicialmente, o projeto Bonjardim City Block contemplava "apartamentos de áreas generosas para famílias", mas a venda, por parte do BCP, a estrangeiros, redefiniu o conceito e a estratégia, passando a ser os estudantes a clientela alvo. A praça interior que estava prevista não deverá avançar.
A informação é escassa, mesmo assim o JN apurou que a transação ainda está em marcha. Do contacto com a Câmara do Porto, não houve resposta em tempo útil.
Perigo de queda
Os que passam na rua não se apercebem do que está para além da cerca. Nos taipais é visível o aviso "perigo de queda", mas isso não impede os curiosos, principalmente os turistas, de se empoleirarem para tirarem fotografias. Quem vai assistindo a tudo isto são os comerciantes das redondezas, incrédulos com a estagnação do projeto, de momento reduzido à estaca zero. "Para os negócios, isto é mau. Gostávamos de ver a obra recomeçar, apesar dos contratempos da empreitada. O empreendimento traria mais gente. Seria um fator de dinamização", diz José António, da oficina de calçado O Económico.
Maria Olívia, do estabelecimento César Santos, Sementes, uma casa comercial com 90 anos de existência e em vias de entrar na listagem Porto de Tradição, lamenta a falta de informação e a inatividade no local. Também se queixa da desertificação e da insegurança, nomeadamente na Travessa da Rua Formosa. "Recentemente, uma senhora foi assaltada em pleno dia", relata, ansiosa por ver desfeito o mistério quanto ao futuro.
Cliente do estabelecimento e moradora na Baixa portuense, Maria Adelaide reforça o sentimento de insegurança relativamente à Travessa da Rua Formosa, adiantando que à noite não se atreve a passar por lá. "Temos medo", admite.
Contrato vale milhões
No respeitante aos contornos do negócio, o JN apurou que a Câmara do Porto terá concordado que o comprador estrangeiro substituísse o BCP no contrato. Também foi possível saber que a paragem das obras tem inerente um custo avultado e que por cada dia de atraso há uma verba a pagar ao Município. Fonte conhecedora do processo adiantou que o prazo de validade das ancoragens, nas paredes de contenção, expira no próximo mês de setembro.
Em 2017, na apresentação, o Bonjardim City Block foi avaliado em 27 milhões de euros.
"Moro nesta zona há 50 anos e cada vez há menos residentes. Até os Correios nos tiraram"
Maria Adelaide, Moradora
"A obra estagnou. Trabalharam noite e dia e depois parou. Alguma coisa se passa"
José António, Comerciante
"Como isto está, não faz sentido nenhum. Ninguém nos diz o que ali vai ser construído"
Maria Olívia,Comerciante