Câmara de Leiria acusada de autorizar obra, sem aviso ou alvará. Abaixo-assinado pede fim dos trabalhos.
Corpo do artigo
Os moradores da Urbanização da Boucharia, nos Marrazes, Leiria, estão indignados por a autarquia ter autorizado a construção de uma creche no único espaço verde ali existente, onde foram plantadas 45 árvores, de que têm cuidado ao longo de décadas e que é habitado por pica-paus, melros, pegas, ouriços-cacheiros e até uma raposa.
Com capacidade para 84 crianças e 27 lugares de estacionamento, o equipamento vai ocupar quase todo o jardim, pelo que a maioria das árvores será abatida. O Município alega, no entanto, que o terreno se destinava à construção de uma escola.
Determinados a impedir a edificação da creche, os moradores vão entregar um abaixo-assinado à câmara a pedir o fim da obra, que teve início há duas semanas, com o objetivo de preservar o jardim. Se os trabalhos continuarem, as irmãs Teresa e Paula Cordeiro ficarão impedidas de exercitar a mãe, de 87 anos, Vera Lopes deixa de passear com a bebé, de nove meses, e com a cadela, e Pedro Pessoa vai ser obrigado a jogar à bola na garagem com o neto, de 9 anos. As 53 crianças da creche e jardim de infância Bambi também não poderão usufruir da zona verde, onde há dias estiveram a brincar numa piscina insuflável, ali colocada pelo proprietário Hernâni Cabral.
Lista de espera elevada
Residente na urbanização há 35 anos, Helena Lourenço garante que o filho do construtor cedeu o terreno à autarquia para ser um espaço verde, pelo que questiona a legalidade da obra, tal como Carlos Dias, que denuncia a inexistência de qualquer aviso ou alvará. Contudo, Ana Valentim, vereadora do Desenvolvimento Social, assegura ao JN que o terreno em causa se destinava à criação de uma escola. A opção por construir antes uma creche é justificada com a “grande pressão” criada pelas crianças em lista de espera na União de Freguesias de Marrazes e Barosa.
E embora a autarca diga que “o projeto da instituição prevê a preservação de árvores”, sem especificar quantas, a planta de implantação do equipamento, a que o JN teve acesso, não deixa margem para dúvidas de que a maioria será abatida. “Ao lado das escolas dos Marrazes, há um campo de futebol abandonado, com espaço para estacionamento. Por que não constroem a creche lá, ou noutro terreno da junta?”, questiona Helena Lourenço. Ana Valentim invoca a existência de um acordo entre o Sport Club Leiria e Marrazes e a União de Freguesias para a sua utilização, mas não responde à possibilidade de considerar outro espaço para instalar a creche.