Circular Regional Exterior nunca foi uma verdadeira alternativa à passagem pelo centro do Porto, um dos grandes objetivos que levaram à sua construção.
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Inaugurada em 2011, a Circular Regional Exterior do Porto (CREP) nunca cumpriu a função de ser uma verdadeira alternativa à Via de Cintura Interna (VCI), evitando que o trânsito de atravessamento passe pelo centro do Porto. No ano passado, a A41 (CREP) teve uma média de 26 390 veículos por dia, cerca de cinco vezes menos do que a VCI, que chegou quase aos 133 mil.
Analisando os números do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (usados pelo JN para chegar às referidas médias), verifica-se mesmo que a A41 está entre as autoestradas com médias de utilização mais baixas na Área Metropolitana do Porto.
Quando abriu, ninguém a conhecia. Os carros eram residuais e o então presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, chegou a ironizar, dizendo que se podia jogar futebol na autoestrada. Entretanto, foram colocados cartazes nas outras vias para informar os condutores. Mas o facto de ter portagens e de obrigar a uma viagem maior do que a VCI faz com que nunca tenha chegado a atingir a meta para a qual foi gizada.
E que o Governo recupera agora. A isenção de portagens para veículos pesados a partir de 2026 foi a única medida concreta apresentada pelo ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, para desanuviar o congestionamento diário na VCI. A ambição é retirar entre 16 e 20% dos camiões da Via de Cintura Interna. Em crónica no JN, o geógrafo Rio Fernandes lembrou que, pela CREP, as mercadorias passarão a ter de fazer mais 23 quilómetros, temendo que a retirada dos camiões signifique apenas espaço para mais carros na VCI.
"Pensar mais profundo"
Também o arquiteto Gomes Fernandes considerou a medida insuficiente: "Será preciso pensar mais profundo e reordenar as causas [do trânsito na VCI], ligações sul-norte e poente-nascente estruturadas sem atravessar o território central da Invicta ou atravessá-lo em desnível". Paula Teles, especialista em mobilidade, pede uma "estratégia integrada" e não "medidas avulso", lembrando que "o fluxo de pesados apenas representa 10 a 15% do tráfego de atravessamento". Ou seja, mesmo na perspetiva mais otimista do ministro (menos 20% do tráfego de pesados), a isenção de portagens levará para a CREP entre 2660 e 3990 camiões.
A Circular Regional Exterior tem 62 quilómetros e liga vários municípios: Matosinhos, Maia, Valongo, Paredes, Gondomar, Gaia, Santa Maria da Feira e Espinho. Apesar de tudo, na última década duplicou a média de trânsito diário (13 512 veículos em 2015; 26 390 em 2024). Os troços entre o Freixieiro/Aeroporto e a Ermida são os mais procurados. Entre a Gandra e Sandim há bem menos veículos.