Agrovouga, que termina amanhã, domingo, em Aveiro, mostra animais que antes trabalhavam nas marinhas e arte xávega. Futuro depende do consumo
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Os criadores da raça Marinhoa defendem que são precisos mais eventos como a Agrovouga, que encerra amanhã, domingo, no Parque de Feiras de Aveiro com um concurso nacional, para promover este gado bovino do litoral que está à beira da extinção. E assim preservar as “vacas amarelas”, que deixaram de ser precisas para trabalhar as marinhas e puxar redes de pesca da arte xávega.
A raça Marinhoa “está classificada pela União Europeia com o grau mais elevado de ameaça de extinção” e “só por via da pressão da comercialização é que conseguiremos ultrapassar a situação, fazendo com que os produtores existentes se mantenham e novos surjam”, disse este sábado ao JN Elisabete Guicho, secretária técnica da raça Marinhoa e coordenadora da EABL - Associação para o Desenvolvimento da Estação de Apoio à Bovinicultura Leiteira. Atualmente existem apenas “1000 fêmeas reprodutoras inscritas no livro genealógico em linha pura, o que é muito pouco”.
Nos 19 concelhos que compõem a área demarcada de produção da carne Marinhoa DOP (Denominação de Origem Protegida), existem cerca de 230 produtores, mas apenas 70 destes integram a fileira, participando em todo o processo de controlo e certificação necessário para assegurar o caderno de especificações. Para incentivar a comercialização, a associação tem uma loja online e criou há anos um circuito de distribuição nacional. A exportação é uma miragem.
A especialista defende “maior envolvimento” das autarquias e do setor do turismo, nomeadamente através de eventos, para que as novas gerações conheçam as “vacas amarelas” e estes animais continuem a “fazer parte do ecossistema da região e sejam uma memória viva das tradições”.
Carlos Vidal, de Albergaria, é dos poucos produtores que têm surgido nos últimos tempos. Começou há meia dúzia de anos e as cabeças de gado que tem contam-se pelos dedos da mão. A aposta tem corrido bem, já que a carne é vendida a “preço acima da média” e tem sido “fácil escoar”.
Este produtor defende a importância de eventos como a Agrovouga para dar a conhecer a raça. Mas, ao final da manhã deste sábado, quando o JN passou no espaço dedicado a este gado, quase não havia visitantes. A família de Adriana Quinteiro, de Ílhavo, era uma excepção. “Viemos à Agrovouga ver os animais e o concurso de saltos de cavalos, porque temos uma criança pequena, e aproveitamos para ver as vacas marinhoas. Conhecemos e já provamos a carne”, conta.
Num esforço para divulgar o produto, foi lançada a obra “Marinhoa - Inovar a tradição”, com receitas dos chefs Alexandre Silva, Daniel Matias, Duarte Eira e Isabel Zibaia Rafael. Amanhã, às 10.30 horas, 64 animais participam no Concurso Nacional da raça Marinhoa.