São mais de 50 crónicas escritas a traço forte, pinceladas carregadas, como exige uma cidade com identidade vincada. "O Porto é uma Nação", livro que agrega textos escritos por Jorge Afonso Morgado entre 1996 e 2022, é lançado nesta terça-feira, às 18 horas, no Palácio da Bolsa, com apresentação dos presidentes da Câmara do Porto, Rui Moreira, e da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho.
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A advertência vem logo na capa. O livro tem "as histórias, o caráter e as pessoas do Porto, sem (quase) nunca falar de futebol". "Não sou especialista", diz, entre sorrisos, Jorge Afonso Morgado, atual diretor de comunicação da Empresa do Metro do Porto, mas com passado no jornalismo, designadamente no jornal O Independente. Ainda assim, o autor não resiste à analogia: "a cidade do Porto deixou a competição interna, de estar sempre a comparar-se com Lisboa, agora compete para a Liga dos Campeões".
Mesmo assumindo não ter a pretensão de ser historiador, ainda assim Jorge Afonso Morgado consegue, neste conjunto de crónicas e artigos de opinião, mostrar muito do que foi o Porto dos últimos 25 anos. Uma cidade que se abriu em definitivo ao mundo, que se tornou cosmopolita sem renegar as raízes. "É o Porto dos nossos dias, com gente dentro, transbordante de palavras, mas também de conhecimentos e de engenho. Conhecimentos e engenho que nos transmitem a certeza de estarmos perante um autor cheio de sinceridade e de humanidade. Leitura para recreio do espírito, sem dúvida, mas também de reflexão", aponta Germano Silva, no prefácio da obra, editada pela Primeira Edição e que agrega textos publicados no Independente, no I, no Público, no Jornal de Notícias e no Observador.
O turismo, os estudantes (o Porto é a cidade com mais alunos universitários estrangeiros), o metro e o aeroporto foram fatores que ajudaram a mudar a cidade. Uma cidade que não se rende e se reinventa a cada passo, acrescenta Jorge Afonso Morgado, lembrando que o setor económico responde sempre, com vigor renovado, a cada crise.
O Porto do Vinho do Porto, do Infante D. Henrique, da Universidade, de Serralves, do F. C. Porto - está tudo lá, nas palavras que nos transportam ao longo dos anos, sem perder a frescura e mantendo a mesma intemporalidade da barbearia Primor, aquela que Jorge frequentava em 1996 e que ainda hoje tem as portas abertas.
Divididos em cinco capítulos - Recomenda-se, Embirrações, Política à moda do Porto, Portugal no seu melhor, o Mundo visto do Porto - os artigos dão conta desse Porto paradoxal, ao mesmo tempo liberal e conservador, bairrista e aberto ao exterior, popular e cosmopolita, mas que "valoriza muito as suas marcas de identidade".
"A cidade recebe milhões de turistas, mas continua a ser possível ir almoçar a casa ou comer febras e sardinhas assadas à beira-rio por poucos euros", resume Jorge Afonso Morgado.