Jovens e adultos com deficiência e/ou incapacidade sobem na próxima sexta-feira ao palco, num espetáculo em Alfena, para sensibilizar para a diferença.
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Primeiro há aquecimento. "Um braço e uma e duas e cruza", vai indicando Ana Barros. Os alunos, utentes da Comunidade de Inserção da ADICE - Associação para o Desenvolvimento Integrado da Cidade de Ermesinde, vão imitando o que veem refletido no espelho, ao seu ritmo. "Agora pernas lá atrás", estimula a funcionária da instituição.
É só depois que começa o verdadeiro ensaio. Desta vez, ao som das músicas de Pedro Abrunhosa, "Para os braços da minha mãe", e de "Candy Shop", de 50 Cent.
Os "artistas", com trissomia 21, paralisia cerebral, doenças do foro genético (que causam atrasos de desenvolvimento) e doenças mentais, já sabem quase todos os passos. Ao todo, 30 jovens e adultos vão mostrar o que valem num espetáculo de dança inclusivo, no Auditório São Vicente, em Alfena, na próxima sexta-feira, com o apoio de dançarinos profissionais. O que é que querem demonstrar? "Que somos todos diferentes e todos iguais", resume numa expressão a presidente da ADICE, Maria Trindade Vale. Querem sensibilizar para a diferença e mostrar as potencialidades destas pessoas.
Os utentes, com idades entre os 22 e os 50 anos, que ensaiam desde janeiro, mostram-se empolgados com a iniciativa que vai conjugar diferentes estilos, desde o contemporâneo, à dança do ventre, hip hop e danças de salão. Também há ansiedade, assumem.
"Adoro dançar desde pequeno e aqui já dancei vários estilos, até rancho", testemunha Abílio Osório, de 37 anos, de Valongo. "Atuar com público assusta, mas isso passa. Já fizemos outros espetáculos", assegura.
"A dança é a minha vida e o meu sonho", afirma Sara Pacheco, de 28 anos, de Alfena. Numa das danças até terá oportunidade de "fazer par" com o namorado, também utente da instituição, o que será "ainda mais especial". "Sei fazer os passos bem e os gestos. Espero que o público goste", diz.
Fila de espera
Na ADICE faz-se inclusão todos os dias, com os utentes e com as famílias, com a ajuda dos profissionais da casa e de voluntários. E a resposta não chega, já que há fila de espera. "O objetivo é darmos visibilidade a todas as capacidades que estes jovens têm. Queremos empoderá-los e sensibilizar a comunidade", refere Dora Martins, coordenadora da Comunidade de Inserção.
Já Maria Costeira, da Academia em Movimento de Rio Tinto, que ajuda voluntariamente nos ensaios, afiança que é "desafiante, mas trabalha-se muito bem" com estes "bailarinos". "São muito empenhados e dão ideias", atesta Ana Barros.