Crianças da pré-escola foram até à Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para perderem o medo de ir ao médico. Durante um dia, os pequeninos tornaram-se os próprios "senhores doutores", enquanto os alunos de Medicina lhes explicavam todos os procedimentos.
Corpo do artigo
Entre consultas marcadas por muitos sorrisos, o Hospital dos Pequeninos incentiva as crianças a serem os "senhores doutores" por um dia. Escolhem um boneco, levam-no para a triagem e a magia começa a partir desse momento. Têm de fazer o diagnóstico ao brinquedo escolhido e, depois, levam-no para a banca correspondente ao problema indicado. A ideia é passar por todas as especialidades existentes no hospital e ficar a conhecer melhor o trabalho clínico. Tal como os médicos, os mais pequenos puderam vestir batas cirúrgicas, calçar luvas e fazer curativos.
A iniciativa foi criada com o intuito de desmistificar o medo da bata branca, colocando as crianças no lugar dos médicos, de forma a mudar a sua perspetiva em relação aos hospitais. Durante três dias, o Hospital dos Pequeninos recebeu 600 crianças de escolas de Valongo e 200 voluntários.
No espaço disponibilizado e organizado pelos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) existem consultas simuladas e espaços dedicados à nutrição, terapia da fala, bloco operatório, dentista, entre muitos outros. Os "pequeninos" têm a oportunidade de realizar exames com instrumentos reais que foram doados e alguns materiais feitos pelos voluntários.
A associação de estudantes da FMUP organiza o Hospital dos Pequeninos e desde 2003, sendo realizadas duas edições por ano. Os alunos voluntariam-se para participar no projeto que tem um grande impacto na sua aprendizagem.
Inês Macedo e João Gil estão no terceiro ano de Medicina. Ao JN, explicaram que durante o curso têm pouco contacto com crianças, sendo esta uma boa oportunidade para desenvolverem as suas capacidades de interação com os mais pequenos.
O espaço colorido e animado faz com que as crianças deixem de olhar para os hospitais como locais frios e assustadores. No Hospital dos Pequeninos ficam a conhecer melhor os médicos e o ambiente hospitalar, só existe uma regra: "Não mentir às crianças".
João Gil explicou ao JN que não querem enganar as crianças e iludi-las relativamente a determinados procedimentos. O objetivo é "tornar as coisas mais simpáticas" e fazê-las perceber que os atos médicos são positivos para a saúde deles.
Medo do desconhecido potencia o receio dos "pequeninos"
O medo do desconhecido é o que leva as crianças a recearem ir ao médico. Quando estão doentes e num estado de fragilidade esse receio aumenta.
Carla Castro, auxiliar de educação pré-escolar no Jardim de Infância das Saibreiras, em Ermesinde, acredita que o processo de examinação é uma das grandes razões por detrás do "pânico" sentido pelas crianças, que têm de ser tocadas e questionadas por alguém que não conhecem.
Com tanta agitação na sala, as crianças corriam de um lado para o outro para conseguirem ir a todas as bancas disponíveis. Rafael Alves, de 4 anos, disse ao JN que a sua parte favorita eram os brinquedos e poder estar com os amigos, mas apontou para a banca da medicina dentária como a sua predileta.
"A interação com os miúdos é muito curiosa, eles sabem mais do que aquilo que estamos à espera", sublinhou Maria Fontes, de 20 anos, responsável pela zona dos dentistas. Durante a experiência vão fazendo perguntas às crianças e explicando os procedimentos todos para que se sintam mais à vontade.
Os dias terminam com as crianças cansadas, mas muito satisfeitas. Depois de um dia a brincar aos médicos, voltam para casa com menos receio de ir ao senhor doutor.