Crianças de Peso da Régua foram ver ilustração sobre a Revolução dos Cravos e cantaram a “Grândola Vila Morena”. A atividade faz parte da iniciativa “Cartas da Liberdade e da Paisagem” que o Museu do Douro tem em curso para celebrar os 50 anos do 25 de Abril de 1974.
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À hora em que as crianças entram no Serviço Educativo do Museu do Douro já a ilustradora Sónia Borges tem a sua obra adiantada num vidro partido. Elas têm entre 3 e 5 anos de idade. Ela tem 42. Sentam-se no chão e vão conversar sobre o 25 de Abril.
“O que é que vocês acham que são estes bonecos pintados no vidro?”, pergunta Sónia, natural de Mirandela e a residir no Porto. Não há respostas no grupo das duas dezenas de crianças do jardim de infância da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua, cidade onde o museu está sediado.
“Antes de virmos para cá, o que é que estivemos a fazer?”, tenta ajudar a educadora Lina Barros. “A pintar o cravo vermelho...” berra um dos pequenos. “... do 25 de Abril”, acrescenta outro.
Sónia conta a história dos bonecos que desenhou no vidro. “Estão a gritar liberdade!” Alguns dos miúdos mais interventivos questionam e comentam, mas também fazem reparos. “Os cravos, em baixo, não são brancos, são verdes. Em cima pintaste bem, em baixo não!”, critica um. A ilustradora responde que esta é a “maravilha do desenho”, no qual se “pode brincar”.
"A liberdade não está adquirida"
Esta foi uma forma de pôr os meninos a falar do 25 de Abril. Lina Barros entende que os seus símbolos devem ser conhecidos desde tenra idade, pois “a liberdade não está adquirida” e “é bom para eles saberem a sua importância”, bem como “tudo o que envolve esta data”. Antes de saírem, cantam a “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso, umas das canções mais emblemáticas do Dia da Liberdade.
A atividade faz parte da iniciativa “Cartas da Liberdade e da Paisagem” que o Museu do Douro tem em curso para celebrar os 50 anos do 25 de Abril de 1974. Samuel Guimarães, do Serviço Educativo, explica que assenta em duas perguntas: “O que é que pode ser a liberdade?” e “O que é que pode ser a paisagem?”. Permitem que “dentro da ideia do que é uma forma de carta, haja alguma coisa escrita, um desenho, uma fotografia, feitos sempre a pensar em alguém e no que somos como comunidade”.
Samuel Guimarães frisa que “é fundamental que um museu que trabalha sobre uma paisagem que importa cuidar [é Património Mundial da UNESCO desde 2001]”, também transponha esse cuidado para a democracia, que “tem de ser cuidada e nutrida”.
A iniciativa arrancou no final de 2023, prolonga-se até 2025 e envolve alunos do ensino pré-escolar ao secundário e ao profissional de escolas da Régua, Santa Marta, Mesão Frio, Vila Real, Sabrosa e Lamego.