Moradores do Bonfim, no centro do Porto, estão a fazer abaixo-assinado para exigir à câmara uma intervenção. Autarquia garante estar a efetuar fiscalização em matéria de insalubridade.
Corpo do artigo
Na pacata zona das Eirinhas - escondida no cimo do Bonfim, com vistas de postal sobre o Porto - vivem-se dias de desassossego: os moradores exibem imagens de pessoas a urinar e a defecar na via pública, onde também se fazem fogueiras para cozinhar ao ar livre.
Aos dejetos humanos soma-se o lixo que é atirado para a rua e que tem atraído gaivotas e ratazanas. Para agravar o mal-estar dos residentes, também têm sido feitas corridas ilegais à noite.
Com janelas sobre as ruas das Eirinhas e de Gisberta Salce Júnior - esta última, recentemente criada, é o palco das corridas -, Marlene Sousa testemunha e regista em fotos e vídeos a nova realidade da zona, dia após dia, e multiplica, há meses, as queixas à câmara e à Polícia.
Os habitantes lamentam que as sucessivas denúncias não surtam efeito, e estão a fazer um abaixo-assinado, dirigido ao presidente da câmara, Rui Moreira, para pedir uma "intervenção urgente nas ruas Goelas de Pau, Gisberta Salce Júnior e Eirinhas, no sentido de solucionar, tão breve quanto possível, os graves problemas de segurança, higiene urbana, policiamento e vigilância que têm vindo a comprometer o bem-estar de todos os residentes e frequentadores da área".
No mesmo documento, os moradores explicam que "há um agravamento constante da situação, em que grupos de cidadãos se reúnem durante o dia e a noite, utilizando os seus carros como local de permanência e consumo de substâncias psicotrópicas". Além disso, "urinam e defecam nas ruas e canteiros das plantas, fazem pequenas fogueiras, colocando em risco todos os moradores, vendem estupefacientes e envolvem-se em atos de violência". Sublinham, ainda, que os episódios descritos têm "gerado um clima de insegurança, desconforto e risco para a saúde pública".
"Há pessoas que estão aqui a viver em carros e que saem [das viaturas] e fazem as necessidades no meio da rua", indigna-se Marlene Sousa. A vizinha, Laura Ferreira, acrescenta: "estendem cobertores no meio do passeio e cozinham ali". Depois, "deixam o lixo todo na rua, o que provoca maus cheiros e atrai ratos e gaivotas", observa Meira da Silva, sublinhando que "é preocupante a sujidade e a insegurança", sobretudo nos casos de "mulheres, crianças e idosos", que se têm sentido "intimidados".
Várias reclamações
"Em todo o lado há lixo", queixam-se os moradores, que apontam ainda para deposições de entulho nas áreas em terra batida e invadidas por vegetação, como as ruínas da antiga fábrica Sobel, há décadas a acentuar o esquecimento a que a zona das Eirinhas ficou votada.
Marlene perdeu a conta aos telefonemas e emails dirigidos à Câmara do Porto, desde outubro do ano passado. Também já se deslocou várias vezes ao gabinete do munícipe, para registar as queixas pessoalmente, mas sem resultados. "Dizem sempre que estão a ser analisadas", conta, inconformada, a moradora, que reclama uma ação das entidades competentes. "A 25 de maio, liguei para os bombeiros e para a PSP porque estava a fazer o jantar e vi cá fora uma fogueira onde cozinhavam ao ar livre."
Autarquia com ações preventivas
Questionada pelo JN, a Câmara do Porto esclarece que "a zona das Eirinhas está a ser alvo de ações de fiscalização municipal preventiva, em matéria de insalubridade de terrenos/logradouros". Não indica, porém, quantas queixas de munícipes recebeu nem porque existem, na zona, áreas com vegetação por limpar. A autarquia remete as restantes questões para "a PSP, enquanto autoridade com competência exclusiva em matéria de segurança pública". Contactada, a PSP não respondeu em tempo útil.
Pormenores
Várias ruas
Face ao cenário que presenciam dia a dia, moradores do prédio que fica entre as ruas das Eirinhas e Monte do Bonfim criaram o abaixo-assinado, que está a circular na envolvente, em ruas como a Gomes Leal e Barros Lima.
Mais vigilância
O "aumento do policiamento de proximidade, com patrulhas regulares na área", e a "instalação de câmaras de vigilância" são duas das reivindicações dos residentes.
Reforço da limpeza
É pedido o "reforço das equipas de limpeza urbana", bem como a "instalação de sanitários públicos para prevenir o uso inadequado dos espaços públicos como locais para urinar e defecar".