<p>O único elevador da estação de comboios de Espinho esteve dois dias avariado. Os deficientes motores ou com dificuldades de locomoção estiveram entregues a si próprios. A Refer fala em actos constantes de vandalismo.</p>
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"Vim para Espinho para tentar relaxar, mas acabei por ter um dia de inferno", desabafa António Fontes, deficiente motor, natural de Braga, que se viu envolvido numa autêntica via-sacra até conseguir ser resgatado pelos bombeiros para o exterior da estação.
Depois de uma viagem tranquila, de Braga até Espinho, António Fontes estava longe de adivinhar o calvário que o esperava. Pelas 8.50 horas chega à estação de Espinho e dirige-se com a sua cadeira eléctrica até junto do elevador. "Estavam lá dois seguranças que me informaram que o elevador estava avariado desde domingo à tarde e viraram as costas", recorda.
Sem qualquer tipo de apoio ou alternativa, António Fontes ligou para a linha de informação ao cliente. "Contei o que se passava e mandaram-me ligar para outro número". Efectuado novo telefonema, agora para a linha de apoio ao cliente, foi informado que alguém viria ajudá-lo.
Enquanto esperava pela ajuda que tardava, decidiu fumar uma cigarrilha. "Queria ir à casa de banho e estava muito nervoso", justifica. Apesar de não ter sinal da ajuda prometida, a chegada dos seguranças não tardou. "Um deles quis tirar-me o cigarro da boca"refere. A troca de palavras que se seguiu fez com que os seguranças chamassem a PSP que chegou ao local "com seis polícias". Com a cigarrilha já apagada, "pediu desculpas aos agentes" e explicou o que se estava a passar. Nesse momento, aparece alguém a tirar fotografias a António Fontes. Alguém que, depois da insistência da PSP, se terá identificado como elemento da Refer. "Quando os polícias perguntaram como é que ele ia resolver a situação respondeu-lhes que o problema era meu", recorda.
Coube então à PSP chamar os Bombeiros Voluntários de Espinho. Subiu, então, a escadaria, com 40 degraus, amparado por dois bombeiros. A cadeira, com que se desloca, foi depois transportada à mão para o exterior. Os bombeiros ajudaram, ainda, uma deficiente motor.
Cerca de uma hora e meia depois de chegar à estação, António Fontes podia "aliviar a cabeça", mas o dia estava irremediavelmente perdido. "Em vez de me acalmar fiquei extremamente nervoso e desiludido com o tratamento de que fui alvo". "O que mais me custou foi ouvir o senhor da Refer a dizer que o problema era meu", recorda.
Sem bombeiros por perto durante o dia, que foi de feira semanal, quem apresentava dificuldades motoras valia-se de familiares ou da ajuda de quem ali passava. Os queixumes eram imensos.
Fonte da Refer confirmou que o elevador se encontrava avariado, desde domingo, devido a problemas com o equipamento. Na manhã de ontem, terão estado alguns técnicos no local, mas a falta de uma peça originou o atraso no concerto. O elevador voltou a funcionar cerca das 17.50 horas, depois do JN ter confrontado a empresa com a situação. A mesma fonte denunciou que o equipamento é constantemente alvo de vandalismo.