Uma derrocada de pedras de grandes dimensões, esta terça-feira, na avenida Gustavo Eiffel, no Porto, atingiu parte de um hotel ali localizado, mas sem causar vítimas. A artéria está cortada desde o início da tarde, por segurança, e assim deverá manter-se.
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Um deslizamento de terras, nesta terça-feira de manhã, atingiu parte de um dos edifícios do hotel Eurostars Porto Douro, na avenida Gustavo Eiffel, no Porto, mas não provocou feridos nem estragos avultados, tendo atingido apenas varandas, grades e a caixilharia de um quarto. Ainda assim, a Proteção Civil interditou o prédio, obrigando ao realojamento dos hóspedes. Para o hotel, esta terá sido uma decisão "excessiva", considerou, ao JN, Mário Ascenção, ainda que não tenha sido difícil encontrar novos locais para os hóspedes, já que o grupo tem vários hotéis na cidade.
O trânsito na avenida Gustavo Eiffel foi cortado ao início da tarde e os serviços de Proteção Civil da Câmara do Porto avançaram com a mitigação de danos possível, mas será necessária a intervenção de uma empresa especializada neste tipo de operações (de remoção de elementos de alguma dimensão), esclarece a Câmara do Porto. A equipa responsável pela intervenção estará no terreno a partir desta quarta-feira e o trânsito permanecerá cortado. A Calçada das Carquejeiras está também interdita, já que o deslizamento de terras teve origem num terreno junto a esse acesso, na escarpa das Fontainhas.
"O terreno é da Câmara e tínhamos vindo a alertar. Aliás, chegámos a propor comprar o bairro da Capela e se isso tivesse acontecido, isto estava seguro", indicou Mário Ascenção. Sobre esta matéria, a Câmara do Porto explica que "a venda de um terreno municipal tem de passar por hasta pública, por isso não seria viável a venda direta ao proprietário do hotel".
"Saturação" do terreno
A parte do edifício da unidade hoteleira que foi atingida reúne 46 apartamentos, mas não estariam todos ocupados. Os Sapadores do Porto receberam o alerta para a derrocada às 10.10 horas, tendo estado no local a fazer uma avaliação do terreno, em conjunto com elementos da Proteção Civil.
Em declarações ao JN, o comandante dos Sapadores do Porto, Carlos Marques, explicou que o deslizamento de terras terá sido provocado por uma "saturação" do terreno, como resultado da chuva forte sentida durante o fim de semana.
"É um acumular de chuva durante várias semanas. Os terrenos estão completamente ensopados e é natural, ao estarem mais pesados, que haja esse deslizamento", clarificou.
"Houve o deslizamento de terras e também algumas pedras para essa zona. Felizmente, ninguém estava nos quartos nessa altura e não houve qualquer vítima a registar", indicou Carlos Marques, acrescentando que a zona terá de ficar interdita enquanto decorrem os "trabalhos de demolições e retirada dos elementos que estão, ainda, em risco de queda". A intervenção terá uma segunda fase, de "estabilização da própria escarpa".
De acordo com o comandante dos Sapadores, a rede que estava colocada para consolidar da escarpa, apesar de ter cedido, "conseguiu amparar muita terra e muitas pedras" e a própria "construção [da unidade hoteleira], em betão armado" também evitou danos nas paredes.
"Se retirassem a estrutura era mais seguro"
Júlio Pinto, ex-morador na avenida Gustavo Eiffel, considera que a artéria está "esquecida". O portuense, de 69 anos, recorda a retirada de moradores, por segurança, a partir dos anos 60. "Em 10 anos, desapareceu tudo", lamenta, reavivando a memória de infância, passada na casa que os pais ali tinham. "Em dezembro de 1999 houve uma derrocada no sítio onde está o hotel. Um muro pequeno também desabou por causa das chuvas", relembra Júlio.
Junto do local onde houve a derrocada, restam as estruturas da antiga ilha da Pescadinha, já devolutas. Aliás, foi colocada uma estrutura em ferro a conter a fachada de uma das ruínas. Mas, para Júlio, "se limpassem e retirassem a estrutura era mais seguro".
Questionado pelo JN, Carlos Marques não excluiu a hipótese da demolição da estrutura, ressalvando, no entanto, que os trabalhos necessários serão determinados pela avaliação da Proteção Civil.
"Temos aqui ainda alguns elementos, quer ruínas quer pedras, que tendo rolado não ficaram estabilizadas, que terão de ser retiradas. Portanto, serão instalados equipamentos tais como auto gruas numa primeira fase, e numa segunda fase uma grua definitiva para fazer a remoção desses elementos antes de estabilizar", clarificou o comandante dos Sapadores do Porto.
Intervenções entre 2013 e 1018
A Câmara do Porto, em resposta ao JN, nota que, "através da empresa municipal GO Porto, tem efetuado, ao longo dos últimos anos, um grande investimento na estabilização das escarpas. Mais concretamente, entre 2013 e 2018, a escarpa das Fontainhas recebeu obras de consolidação".
"Atualmente em curso, decorre a empreitada no Ramal da Alfândega, que prevê a consolidação e estabilização de três zonas de talude/escarpa (taludes poente, intermédio e nascente) e dois deslizamentos da plataforma (poente e nascente)", acrescenta o Município.
Sobre a derrocada desta terça-feira, a Autarquia deixa uma nota final: "Nunca é demais recordar que a intensidade das chuvas dos últimos dias gerou uma acumulação de água muito significativa naqueles terrenos".