Batatas fritas, gomas e chupas são ingeridos com frequência pelas crianças da Quinta da Princesa, no Seixal, onde foi detectada também subnutrição. O fenómeno pode ser explicado pelo facto de os pais saírem cedo de casa e as crianças ficarem entregues aos irmãos.
Corpo do artigo
"Cada vez mais reparamos que vêm para a escola com batatas fritas, bolicaos, chupas e gomas e acabamos por perceber que estão subnutridas", revelou, ao JN, Ângela Silva, da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas Pedro Eanes Lobato, que promoveu ontem na Escola Básica n.º 1 da Quinta da Princesa uma acção de sensibilização, que contou com a participação de cerca de 150 pessoas, entre adultos e crianças.
"Queremos alertar os pais para o facto de um copo de leite e um pão com manteiga ser mais saudável e mais barato do que um pacote de batatas fritas", salienta, considerando que há ainda "um longo caminho a percorrer" para uma mudança de comportamentos.
O dia começou com a oferta de um pequeno-almoço composto por leite, pão com manteiga, cereais, iogurtes e fruta. A saúde deu depois o mote para uma palestra de um médico do centro de saúde da Amora, enquanto as crianças se entretinham em jogos didácticos.
"Se não se alimentarem bem, quando vêm para a escola o cérebro anda devagar", explicou a monitora da actividade. André Correia, de 10 anos, foi um dos participantes por iniciativa da mãe. "Estava preocupada com ele, porque abusa um bocado nos doces e poderia ter diabetes, mas afinal está tudo bem", afirmou Carla Correia, de 32 anos, após ter feito um rastreio à glicemia e ao colesterol.
Ao todo foram rastreadas mais de uma centena de pessoas. "Verificámos valores muito elevados de colesterol. As pessoas aderem muito à comida facilitada dos supermercados e depois têm muitas gorduras saturadas", revelou ao JN a nutricionista Jacqueline Dias Fernandes, que coordenou o rastreio.
"Ao pequeno-almoço têm principalmente de evitar as batatas fritas. Se têm ali atrás as hortas podem também aumentar a ingestão de frutas", sugere, explicando que está provado que as populações migrantes - em maioria naquele bairro - aumentam de peso no país de acolhimento.
A acção foi bem aceite pela população. "Precisamos de mais eventos deste género", afirma Ester Baptista, de 67 anos, que acompanhou a neta. "Ela alimenta-se razoavelmente, mas o pequeno-almoço e o lanche são insignificantes", lamenta, ansiando por uma mudança de hábitos.