Desde 2007 que leito do rio Guadiana não transbordava as margens e tapava por complexo os cais de Mértola e do Pomarão, acabando por danificar as estruturas fluviais de apoio à navegação.
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As descargas que estão a ser feitas a partir da barragem do Pedrogão, face ao grande volume de água que chega do rio Ardila (Moura) e do turbinamento de água das centrais elétricas de Alqueva para gerir os caudais que têm chegado à albufeira, levaram o rio Guadiana a galgar hoje as margens.
A Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA) está desde a passada semana a gerir o nível de Alqueva, que às 7 horas desta terça-feira apresentava uma cota de 151,55 metros, estando a 45 centímetros do enchimento toral, que não acontece em virtude da gestão feita pela EDIA.
Apesar de não haver registo de prejuízos humanos ou animais, os ancoradouros marítimos de embarcações dos cais de Mértola e do antigo porto mineiro de Pomarão, no mesmo concelho, acabaram por ser arrastados para o rio e algumas estruturas afundaram. No cais de Mértola, onde decorriam obras de recuperação, contentores e casas de banho portáteis acabaram por ser arrastados.
Ao JN, Jorge Santos, comandante dos Bombeiros Voluntários de Mértola, explicou que, apesar da cheia, as ocorrências "não representam nada de especial em termos de prejuízos”, concluiu.
Foi há quase século e meio, na noite de 7 de dezembro de 1876, que se registaram as maiores cheias de que há memória no local e que fizeram desabar casas, provocando enormes prejuízos, deixando parte da vila debaixo de água.
Segundo a imprensa da época, nomeadamente o jornal "Comércio do Sul", que se publicava em Faro, “foram vistos arrastados pelas águas alguns cadáveres, uma mulher agarrada a um tronco de uma árvore, uma criança de tenra idade num berço e um homem. As estas perdas de vidas humanas, juntaram-se ainda as tripulações de várias embarcações, que foram arrastadas pela corrente e naufragaram”, revelava a publicação.
Para que a terrível cheia do rio Guadiana ficasse perpetuada na memória de residentes e visitantes, no antigo edifício da Câmara Municipal de Mértola, foi colocada uma lápide, onde se deixou gravado: “aqui mesmo chegou a enchente diluvial do Guadiana na terrível noite de sete de dezembro de 1876”.